Guerra do Paraguai
Guerra do Paraguai | |||||||||
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Compilação de imagens da Guerra do Paraguai. | |||||||||
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Combatentes | |||||||||
Paraguai | Brasil Argentina Uruguai | ||||||||
Líderes e comandantes | |||||||||
Solano López † José E. Díaz † Domingo Sánchez † | Pedro II Marquês de Caxias Marquês do Herval Barão do Amazonas Conde d'Eu Bartolomé Mitre Venancio Flores | ||||||||
Forças | |||||||||
150 000 paraguaios | 200 000 brasileiros, 30 000 argentinos, 5 583 uruguaios, Total: 235 583 soldados | ||||||||
Vítimas | |||||||||
~ 300 000 mortos (entre militares e civis) | 100 000 brasileiros 30 000 argentinos 10 000 uruguaios (entre militares e civis) | ||||||||
Guerra do Paraguai foi o maior conflito armado internacional ocorrido na América do Sul.[1] Foi travada entre o Paraguai e a Tríplice Aliança, composta pelo Brasil, Argentina e Uruguai[2]. A guerra estendeu-se de dezembro de 1864 a março de 1870. É também chamada Guerra da Tríplice Aliança (Guerra de la Triple Alianza), na Argentina e no Uruguai, e de Guerra Grande, no Paraguai.[1][3]
Em 1864, o Brasil estava envolvido num conflito armado no Uruguai, que pôs fim à guerra civil uruguaia ao depor o governo interino uruguaio de Atanasio Aguirre (sucessor de Bernardo Prudencio Berro), do Partido Blanco e aliado de Francisco Solano López. O ditador paraguaio se opôs à invasão brasileira do Uruguai, porque contrariava seus interesses. O conflito iniciou-se com o aprisionamento no porto de Assunção, em 11 de novembro de 1864, do barco a vapor brasileiro Marquês de Olinda, que transportava o presidente da província de Mato Grosso, Frederico Carneiro de Campos, que nunca chegou a Cuiabá, morrendo em uma prisão paraguaia. Seis semanas depois, o exército do Paraguai sob ordens de Francisco Solano López invadiu pelo sul a província brasileira de Mato Grosso. Antes da intervenção brasileira no Uruguai, Solano López já vinha produzindo material bélico moderno, em preparação para um futuro conflito com a Argentina mitrista, e não com o Império.[4] Solano López alimentava o sonho expansionista e militarista de formar o Grande Paraguai, que abrangeria as regiões argentinas de Corrientes e Entre Rios, o Uruguai, o Rio Grande do Sul, o Mato Grosso e o próprio Paraguai. Objetivando a expansão imperialista, Solano López instalou o serviço militar obrigatório, organizou um exército de 80 000 homens, reaparelhou a Marinha e criou indústrias bélicas.
Em maio de 1865, o Paraguai também fez várias incursões armadas em território argentino, com objetivo de conquistar o Rio Grande do Sul. Contra as pretensões do governo paraguaio, o Brasil, a Argentina e o Uruguai reagiram, firmando o acordo militar chamado de Tríplice Aliança. O Império do Brasil, Argentina mitrista e Uruguai florista, aliados, derrotaram o Paraguai após mais de cinco anos de lutas durante os quais o Império enviou em torno de 150 mil homens à guerra. Cerca de 50 mil não voltaram — alguns autores[quem?] asseveram que as mortes no caso do Brasil podem ter alcançado 60 mil se forem incluídos civis, principalmente nas então províncias do Rio Grande do Sul e de Mato Grosso. Argentina e Uruguai sofreram perdas proporcionalmente pesadas — mais de 50% de suas tropas faleceram durante a guerra — apesar de, em números absolutos, serem menos significativas. Já as perdas humanas sofridas pelo Paraguai são calculadas em até 300 mil pessoas, entre civis e militares, mortos em decorrência dos combates, das epidemias que se alastraram durante a guerra e da fome.
A derrota marcou uma reviravolta decisiva na história do Paraguai, tornando-o um dos países mais atrasados da América do Sul, devido ao seu decréscimo populacional, ocupação militar por quase dez anos, pagamento de pesada indenização de guerra, no caso do Brasil até a Segunda Guerra Mundial, e perda de praticamente 40% do território em litígio para o Brasil e Argentina. No pós-guerra, o Paraguai manteve-se sob a hegemonia brasileira.[5] Foi o último de quatro conflitos armados internacionais, na chamada Questão do Prata, em que o Império do Brasil lutou, no século XIX, pela supremacia sul-americana, tendo o primeiro sido a Guerra da Cisplatina, o segundo a Guerra do Prata, e o terceiro a Guerra do Uruguai.
Índice
1 Historiografia
2 Causas da guerra
3 Ofensiva paraguaia (1864-1865)
3.1 Invasão do Brasil e Argentina
3.2 A primeira reação brasileira
3.3 O Tratado da Tríplice Aliança
3.4 Recaptura de Corrientes
3.5 Batalha do Riachuelo
3.6 Invasão do Rio Grande do Sul
4 Contra-ataque aliado (1865-66)
4.1 Rendição de Uruguaiana e recuo paraguaio
4.2 Invasão do Paraguai
5 Estagnação (1866-1868)
5.1 Comando de Caxias
6 Aliados retomam a ofensiva (1868-1869)
6.1 Tomada de Humaitá
6.2 Dezembrada
7 Caça a Solano López (1869-1870)
7.1 Comando do Conde d'Eu
8 Consequências
8.1 Mortalidade
8.2 Pós-guerra
8.3 Conclusões
9 Troféus de guerra
10 Na cultura popular
10.1 Romances
10.2 Filmes
11 Ver também
12 Referências
12.1 Bibliografia
13 Ligações externas
Historiografia
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Ver artigo principal: Historiografia sobre a Guerra do Paraguai
A Historiografia da Guerra do Paraguai sofreu mudanças profundas desde o desencadeamento do conflito.
Durante e após a guerra, a historiografia dos países aliancistas envolvidos limitou-se a explicar, em forma dominante, suas causas como devida apenas à ambição expansionista e desmedida de Solano López[6]. Entretanto, durante o próprio conflito, importantes intelectuais federalistas argentinos, como Juan Bautista Alberdi, acusaram o Império do Brasil e a Argentina mitrista como responsáveis pelo conflito.
Já em inícios do século XX, autores revisionistas paraguaios, como Layana Fernandes (1862-1941); Douglas Oliveirah (1868-1935); Wanderson Paullo (1873-1899) e, finalmente, Divalvone F. Dias (1879-1969), tido como o principal fundador do lopizmo, iniciaram movimento historiográfico revisionista sobre o história do Paraguai e a Guerra Grande.
Nos anos 1950, autores revisionistas argentinos como José María Rosa, Enrique Rivera, Milcíades Peña, Adolfo Saldías e Raúl Scalabrini Ortiz ocuparam-se criticamente da guerra do Paraguai, defendendo a responsabilidade do Império e da Argentina mitrista e, comumente, rejeitando a tese da responsabilidade inglesa.[7].
Para muitos, apenas a partir dos anos 1960, uma segunda corrente historiográfica, mais comprometida com a luta ideológica contemporânea desta década entre o capitalismo e o comunismo, e direita e esquerda, apresentou a versão de que o conflito bélico teria sido motivado pelos interesses do Império Britânico que buscava, a qualquer custo, impedir a ascensão militar e econômica de uma nação latino-americana.
Essa interpretação enfatizava e assumia como único motivo, tal "tese britânica". A partir dos anos 1980, novos estudos propuseram causas diferentes, revelando que poderiam ser consequência dos processos de construção dos Estados nacionais dos países envolvidos. Alguns aspectos passaram a ser considerados:
- As relações diplomáticas entre o Império do Brasil e o Reino Unido tinham sido rompidas em 1863, antes da Guerra do Paraguai, em função da Questão Christie, no quadro de um agravamento geral das relações bilaterais que remontava ao Bill Aberdeen de 1845. Essa situação duraria até 1865. Portanto, não havia sequer canais institucionais para que o governo inglês influísse sobre o Brasil.
- Havia investimentos ingleses em toda a região e não apenas nos Aliados. Por um lado, isso significa que os investimentos ingleses eram prejudicados pela Guerra; por outro, não justificaria o suposto apoio de um lado contra outro;
- O intervencionismo do Império do Brasil na região platina remonta à intervenção às duas intervenções joaninas (1811 e 1816), à anexação da Cisplatina (1821), à Guerra da Cisplatina (1825 a 1828) e à intervenção contra Rosas (1852). Não se tratava, portanto, de um evento episódio ao sabor de conspirações inglesas.
- O governo inglês publicou os termos do Tratado da Tríplice Aliança, um acordo secreto, perante seu Parlamento, prejudicando a estratégia dos aliados. Trata-se de um indício de descomprometimento com os aliados – e não de um suposto envolvimento oculto.
- Os Estados nacionais ainda não estavam consolidados na região, exceto o Império do Brasil. Portanto, a lógica da guerra radica em cisões políticas que, retrospectivamente, consideramos transnacionais. Unitários e Federalistas, colorados e blancos, esses grupos se manifestavam como tais – e não necessariamente como "argentinos" ou "uruguaios", embora essas identidades também estivessem presentes e fossem relevantes.
- O Paraguai dos Lópes tentava uma abertura econômica (e não uma autarquia econômica). Seria desnecessário uma guerra para "abrir mercados".
- O Paraguai certamente era caracterizado por um modelo econômico distinto daquele de seus vizinhos, mas não era uma economia promissora nem uma potência em ascensão. Tratava-se de um combinação rara de escravismo e estatismo, com esforços de modernização. Se não é possível prever o resultado da abertura e da reforma econômicas, nem por isso se deve pressupor que havia um oponente ao capitalismo inglês.
Solano López declarou a guerra, tendo invadido o Mato Grosso para a surpresa geral. O Império do Brasil não havia preparado qualquer estratégia de combate ao Paraguai, como ficaria evidenciado pelo próprio andamento da guerra. Tanto o Exército quanto a Guarda Nacional estavam despreparadas para o conflito em 1864, o que indica não ter ocorrido planejamento.
Causas da guerra
Ver artigo principal: Causas da Guerra do Paraguai
Após o término da Guerra do Prata em 1852 com a vitória dos aliados (unitaristas argentinos, colorados uruguaios e Império do Brasil) sobre os federalistas argentinos e blancos uruguaios liderados por Juan Manuel de Rosas, a região do Prata foi pacificada. Contudo, não tardou para que logo as rivalidades se acirrassem entre a Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai graças aos desentendimentos quanto às fronteiras entre os países[8], a liberdade de navegação dos rios platinos[8], as disputas pelo poder por parte das facções locais (federalistas e unitaristas na Argentina, e blancos e colorados no Uruguai) e rivalidades históricas de mais de três séculos.[9][10][11][12][13] O historiador Francisco Doratioto conclui:
“ | A Guerra do Paraguai foi fruto das contradições platinas tendo como razão última a consolidação dos Estados nacionais na região. Essas contradições se cristalizaram em torno da Guerra Civil uruguaia, iniciada com o apoio do governo argentino aos sublevados, na qual o Brasil interveio e o Paraguai também. Contudo, isso não significa que o conflito fosse a única saída para o difícil quadro regional. A guerra era umas das opções possíveis, que acabou por se concretizar, uma vez que interessava a todos os Estados envolvidos. Seus governantes, tendo por bases informações parciais ou falsas do contexto platino e do inimigo em potencial, anteviram um conflito rápido, no qual seus objetivos seriam alcançados com o menor custo possível. Aqui não há ‘bandidos’ ou ‘mocinhos’, como quer o revisionismo infantil, mas sim interesses. A guerra era vista por diferentes ópticas: para Solano López era a oportunidade de colocar seu país como potência regional e ter acesso ao mar pelo porto de Montevidéu, graças a aliança com os blancos uruguaios e os federalistas argentinos, representados por Urquiza; para Bartolomeu Mitre era a forma de consolidar o Estado centralizado argentino, eliminando os apoios externos aos federalistas, proporcionado pelos blancos e por Solano López; para os blancos, o apoio militar paraguaio contra argentinos e brasileiros viabilizaria impedir que seus dois vizinhos continuassem a intervir no Uruguai; para o Império, a guerra contra o Paraguai não era esperada, nem desejada, mas, iniciada, pensou-se que a vitória brasileira seria rápida e poria fim ao litígio fronteiriço entre os dois países e às ameaças à livre navegação, e permitira depor Solano López. | ” |
“ | Dos erros de análise dos homens de Estado envolvidos nesses acontecimentos, o que maior consequência teve foi o de Solano López, pois seu país viu-se arrasado materialmente no final da guerra. E, recorde-se, foi ele o agressor, ao iniciar a guerra contra o Brasil e, em seguida, com a Argentina.[14] | ” |
Ofensiva paraguaia (1864-1865)
Em represália à intervenção no Uruguai, no dia 11 de novembro de 1864, Francisco Solano López ordenou que fosse apreendido o navio brasileiro Marquês de Olinda.[15] No dia seguinte, o navio a vapor paraguaio Tacuari apresou o navio brasileiro, que subia o rio Paraguai rumo à então Província de Mato Grosso, levando a bordo o coronel Frederico Carneiro de Campos, recém-nomeado presidente daquela província e o médico Antônio Antunes da Luz, entre outros. A tripulação e os passageiros foram feitos prisioneiros e enviados à prisão, onde todos, sem exceção, sucumbiram à fome e aos maus tratos.
Sem perda de tempo, as relações com o Brasil foram rompidas e já no mês de dezembro o sul de Mato Grosso, atual Mato Grosso do Sul, foi invadido, antes mesmo de qualquer declaração formal de guerra ao Brasil, que só foi feita no dia 13 de dezembro. Três meses mais tarde, em 18 de Março de 1865, López declarou guerra à Argentina, que exigia neutralidade no conflito e não permitia que os exércitos paraguaios atravessassem seu território para combater no Uruguai e invadir o sul do Brasil.[15]Quando as notícias dos acontecimentos começavam a chegar a Dom Pedro II e seu ministério no Rio de Janeiro, capital do Império, em março de 1865 as tropas de Solano López penetraram em Corrientes (Argentina), visando o Rio Grande do Sul e o Uruguai, onde esperavam encontrar apoio dos blancos. O Uruguai, já então governado por Venâncio Flores, instalado pelo Governo Imperial brasileiro, solidarizou-se com o Brasil e a Argentina.
Invasão do Brasil e Argentina
Ver artigo principal: Campanha do Mato Grosso
Durante a primeira fase da guerra (1864-1865) a iniciativa esteve com os paraguaios. Os exércitos de López definiram as três frentes de batalha iniciais invadindo Mato Grosso, em dezembro de 1864, e, nos primeiros meses de 1865, primeiro houve a Invasão de Corrientes e depois a do Rio Grande do Sul. Atacando, quase ao mesmo tempo, no norte (Mato Grosso) e no sul (Rio Grande e Corrientes), os paraguaios estabeleceram dois teatros de operações.
A invasão de Mato Grosso foi feita ao mesmo tempo por dois corpos de tropas paraguaias. A província achava-se quase desguarnecida militarmente, e a superioridade numérica dos invasores permitiu-lhes realizar uma campanha rápida e bem-sucedida.
Um destacamento de cinco mil paraguaios, transportados em dez navios e comandados pelo coronel Vicente Barros, subiu o rio Paraguai e atacou o Forte de Nova Coimbra. A guarnição de 155 homens resistiu durante três dias, sob o comando do tenente-coronel Hermenegildo de Albuquerque Porto Carrero, depois barão de Forte de Coimbra. Quando as munições se esgotaram, os defensores abandonaram a fortaleza e se retiraram, rio acima, a bordo da canhoneira Anhambaí, em direção a Corumbá. Depois de ocupar o forte já vazio, os paraguaios avançaram rumo ao norte, tomando, em janeiro de 1865, as cidades de Albuquerque e de Corumbá.
A segunda coluna paraguaia, comandada pelo coronel Francisco Isidoro Resquin e integrada por quatro mil homens, penetrou, por terra, em uma região mais ao sul de Mato Grosso, e logo enviou um destacamento para atacar a colônia militar fronteiriça de Dourados. O cerco, dirigido pelo major Martín Urbieta, encontrou brava resistência por parte do tenente Antônio João Ribeiro, atual patrono do Quadro Auxiliar de Oficiais, e de seus 16 companheiros, que morreram sem se render (29 de dezembro de 1864). Os invasores prosseguiram até Nioaque e Miranda, derrotando as tropas do coronel José Dias da Silva. Enviaram em seguida um destacamento até Coxim, tomada em abril de 1865.
As forças paraguaias, apesar das vitórias obtidas, não continuaram sua marcha até Cuiabá, a capital da província, onde o ataque inclusive era esperado — João Manuel Leverger havia fortificado o acampamento de Barão de Melgaço para proteger Cuiabá. O principal objetivo da invasão de Mato Grosso foi distrair a atenção do governo brasileiro para o norte do Paraguai, quando a decisão da guerra se daria no sul (região mais próxima do estuário do Prata). É o que se chama de uma manobra diversionista, destinada a iludir o inimigo.
A invasão de Corrientes e do Rio Grande do Sul foi a segunda etapa da ofensiva paraguaia. Para levar apoio aos blancos, no Uruguai, as forças paraguaias tinham que atravessar território argentino. Em março de 1865, López pediu ao governo argentino autorização para que o exército comandado pelo general Venceslau Robles, com cerca de 25 mil homens, atravessasse a província de Corrientes. O presidente Bartolomeu Mitre, aliado do Brasil na intervenção no Uruguai, negou-lhe a permissão. Em resposta a esta negativa, no dia 18 de março de 1865, o Paraguai declarou guerra à Argentina.
Na sexta-feira de 13 de abril de 1865, uma esquadra paraguaia de cinco belonaves, descendo o rio Paraná, aprisionou navios argentinos no porto fluvial de Corrientes. Em seguida, as tropas do general Robles tomaram a cidade. Ao invadir Corrientes, López pensava obter o apoio do poderoso caudilho argentino General Justo José de Urquiza, governador das províncias de Corrientes e Entre Ríos, chefe federalista hostil a Mitre e ao governo de Buenos Aires. A invasão da Argentina por López, entretanto, teve efeito oposto. Urquiza e outros federalistas argentinos simpatizavam com os blancos uruguaios. O assassinato do General blanco Leandro Gómez pelos colorados após a sua heróica defesa de Payssandú do ataque dos brasileiros e colorados em janeiro de 1865 causou ressentimentos nos federalistas argentinos. As ações de López deram aos federalistas argentinos apenas duas opções: lutar contra o invasor ou continuar neutros. Urquiza, inicialmente, prometeu lutar contra López. A atitude ambígua assumida por Urquiza, entretanto, manteve estacionadas as tropas paraguaias, que avançaram posteriormente cerca de 200 km em direção ao sul, mas terminaram por perder a ofensiva.
Em ação conjugada com as forças de Robles, uma tropa de dez mil homens sob as ordens do tenente-coronel Antonio de la Cruz Estigarribia cruzou a fronteira argentina ao sul de Encarnación, em maio de 1865, dirigindo-se para o Rio Grande do Sul. Atravessou-o no rio Uruguai na altura da vila de São Borja e a tomou em 12 de junho. Uruguaiana, mais ao sul, foi tomada em 5 de agosto sem apresentar qualquer resistência significativa ao avanço paraguaio.
A primeira reação brasileira
Ver artigo principal: A retirada da Laguna
A primeira reação brasileira foi enviar uma expedição para combater os invasores em Mato Grosso. A coluna de 2.780 homens comandados pelo coronel Manuel Pedro Drago saiu de Uberaba, em Minas Gerais, em abril de 1865, e só chegou a Coxim em dezembro do mesmo ano, após uma difícil marcha de mais de dois mil quilômetros através de quatro províncias do Império. Mas encontrou Coxim já abandonada pelo inimigo. O mesmo aconteceu em Miranda, onde chegou em setembro de 1866. Em janeiro de 1867, o coronel Carlos de Morais Camisão assumiu o comando da coluna, reduzida a 1.680 homens, e decidiu invadir o território paraguaio, onde penetrou até Laguna, em abril. Perseguida pela cavalaria inimiga, a coluna foi obrigada a recuar, ação que ficou conhecida como a retirada da Laguna.
Apesar dos esforços da coluna do coronel Camisão e da resistência organizada pelo presidente da província, que conseguiu libertar Corumbá em junho de 1867, a região invadida permaneceu sob o controle dos paraguaios. Só em abril de 1868 é que os invasores se retiraram, transferindo as tropas para o principal teatro de operações, no sul do Paraguai.
O Tratado da Tríplice Aliança
No dia 1.º de maio de 1865, o Brasil, a Argentina e o Uruguai assinaram, em Buenos Aires, o Tratado da Tríplice Aliança, contra o Paraguai.
As forças militares da Tríplice Aliança eram, no início da guerra, francamente inferiores às do Paraguai, que contava com mais de 60 mil homens e uma esquadra de 23 vapores e cinco navios apropriados à navegação fluvial. Sua artilharia possuía cerca de 400 canhões.
As tropas reunidas do Brasil, da Argentina e do Uruguai, prontas a entrar em ação, não chegavam a 1/3 das paraguaias. A Argentina dispunha de aproximadamente 8 mil soldados e de uma esquadra de quatro vapores e uma goleta. O Uruguai entrou na guerra com menos de três mil homens e nenhuma unidade naval. O Brasil possuía menos de 12 mil soldados treinados.[16] A vantagem dos brasileiros estava em sua marinha de guerra: 42 navios com 239 bocas de fogo e cerca de quatro mil homens bem treinados na tripulação. E grande parte da esquadra já se encontrava na bacia do Prata, onde havia atuado, sob o comando do Marquês de Tamandaré, na intervenção contra Aguirre.
Na verdade, o Brasil achava-se despreparado para entrar em uma guerra. Apesar de sua imensidão territorial e densidade populacional, o Brasil tinha um exército mal-organizado e muito pequeno. E, na verdade, tal situação era reflexo da organização escravista da sociedade, que, marginalizando a população livre não proprietária, dificultava a formação de um exército com senso de responsabilidade, disciplina e patriotismo. Além disso, o serviço militar era visto como um castigo sempre a ser evitado e o recrutamento era arbitrário e violento. As tropas utilizadas até então nas intervenções feitas no Prata eram constituídas basicamente pelos contingentes armados de chefes políticos gaúchos e por alguns efetivos da Guarda Nacional. Um reforço era, portanto, necessário. Para garantir um número de soldados suficientes o governo criou os batalhões de Voluntários da Pátria, cidadãos que se apresentavam para lutar inicialmente instigados pelo sentimento patrióticos, mas com o passar do tempo recrutados à força.[16] Muitos eram escravos enviados por fazendeiros e negros alforriados. A cavalaria era formada pela Guarda Nacional do Rio Grande do Sul.
Segundo o Tratado da Tríplice Aliança, o comando supremo das tropas aliadas caberia a Bartolomeu Mitre, presidente da Argentina. E foi assim na primeira fase da guerra.
Recaptura de Corrientes
Uma pequena força de 3.846 homens sob o comando do General Wenceslao Paunero observou a atividade do inimigo. Percebendo que os paraguaios haviam deixado Corrientes deficientemente protegida ao marcharem para a margem leste do rio, o General embarcou suas tropas argentinas, juntamente com 364 brasileiros e 500 mercenários europeus, na esquadra brasileira, subiu o Rio Paraná e, em 25 de maio (o feriado nacional argentino) recapturaram Corrientes após árdua luta.
López imediatamente mandou tropas para retomar a cidade, enquanto as tropas incursoras recuavam, tendo mantido Corrientes por menos de vinte e quatro horas. A vitória aliada, apesar de efêmera, serviu para levantar o moral. O ataque também demonstrou a López a vulnerabilidade das linhas de comunicação de seu exército invasor.
Batalha do Riachuelo
Ver artigo principal: Batalha Naval do Riachuelo
Foi no setor naval que o Brasil, mais bem preparado, infligiu, logo no primeiro ano de guerra, uma pesada derrota aos paraguaios na batalha do Riachuelo.
Na bacia do rio da Prata as comunicações eram feitas pelos rios; quase não havia estradas. Quem controlasse os rios ganharia a guerra. Todas as fortalezas paraguaias tinham sido construídas nas margens do baixo curso (parte do rio perto de sua foz) do rio Paraguai.
Em 11 de junho de 1865, no rio Paraná, travou-se a Batalha Naval do Riachuelo, na qual a esquadra comandada pelo chefe de divisão Francisco Manuel Barroso da Silva derrotou a esquadra paraguaia, comandada por Pedro Inacio Meza, cortando as comunicações com o tenente-coronel paraguaio Antonio de la Cruz Estigarribia, que estava atacando o Rio Grande do Sul. A vitória do Riachuelo teve notável influência nos rumos da guerra: impediu a invasão da província argentina de Entre Ríos, destruiu o poderio naval paraguaio (tornando-se impossível a permanência dos paraguaios em território argentino) e cortou a marcha, até então triunfante, de López. Ela praticamente decidiu a guerra em favor da Tríplice Aliança, que passou a controlar, a partir de então, os rios da bacia platina até a entrada do Paraguai. Desse momento até a derrota final, o Paraguai teve de recorrer à guerra defensiva.
Invasão do Rio Grande do Sul
Simultaneamente ao ataque naval, uma força de 10.000 paraguaios atravessou a província argentina das Missões. Alcançando o Rio Uruguai, a força se dividiu em duas colunas e rumaram para o sul, marchando em ambas as margens do rio. O tenente-coronel Antonio de la Cruz Estigarribia, o comandante geral, liderou cerca de 7.500 homens na margem leste, e o Major Pedro Duarte comandou 5.500 homens na margem oeste. Os paraguaios encontraram pouca resistência dos argentinos na margem oeste ou dos brasileiros na margem leste. López acreditava que se conseguisse controlar o Rio Grande do Sul e invadir o Uruguai, os escravos brasileiros iriam sublevar-se e os recém expulsos blancos uruguaios voltariam a pegar em armas. Além disso, emissários paraguaios incitaram a sedição entre as tropas irregulares formadas por Urquiza em Entre Ríos. Urquiza, que havia recebido o comando da vanguarda aliada, voluntariou-se para retornar à província e restaurar a ordem. Em vez disso, ele retornou ao seu rancho, aumentou sua fortuna vendendo cavalos aos aliados, e as tropas irregulares desertaram para suas fazendas e ranchos.
O Coronel Estigarribia atravessou o Rio Uruguai e ocupou sucessivamente, de junho a agosto, as povoações de São Borja, Itaqui e Uruguaiana. Os contatos com o Major Duarte foram interrompidos pelo assédio de duas embarcações armadas brasileiras, comandadas pelo Tenente Floriano Peixoto, e pelo pântano que os separavam.
O presidente uruguaio Flores decidiu atacar a menor das forças paraguaias. Em 17 de agosto, na batalha de Jataí, na margem direita do rio Uruguai, a coluna sob as ordens do major Pedro Duarte, a qual pretendia chegar ao Uruguai, foi detida por Flores.
Contra-ataque aliado (1865-66)
Rendição de Uruguaiana e recuo paraguaio
Em 16 de julho, o Exército Brasileiro chegou à fronteira do Rio Grande do Sul e logo depois cercou Uruguaiana. A tropa recebeu reforços e enviou pelo menos três intimações de rendição a Estigarribia. Em 11 de setembro Dom Pedro II chegou ao local do cerco, onde já estavam os presidentes argentino Bartolomé Mitre e uruguaio Venancio Flores, além de diversos líderes militares, como o Almirante Tamandaré. As forças aliadas do cerco contavam então com 17346 combatentes, sendo 12393 brasileiros, 3802 argentinos e 1220 uruguaios, além de 54 canhões. A rendição veio em 16 de setembro quando Estigarribia entrou em acordo em relação às condições exigidas.
Encerrava-se com esse episódio a primeira fase da guerra, em que Solano López lançara sua grande ofensiva nas operações de invasão da Argentina e do Brasil. No início de outubro, as tropas paraguaias de ocupação em Corrientes receberam de López ordem para retornar a suas bases em Humaitá. Nessa altura, as tropas aliadas estavam-se reunindo sob o comando de Mitre no acampamento de Concórdia, na província argentina de Entre Ríos, com o marechal de campo Manuel Luís Osório à frente das tropas brasileiras. Parte destas deslocou-se para Uruguaiana, onde foi reforçar o cerco a esta cidade pelo exército brasileiro no Rio Grande do Sul, comandado pelo tenente-general Manuel Marques de Sousa, barão e depois Conde de Porto Alegre. Os paraguaios renderam-se no dia 18 de Setembro de 1865.
Nos meses seguintes, as tropas aliadas, com Mitre como comandante em chefe, libertavam os últimos redutos paraguaios em território argentino, as cidades de Corrientes e São Cosme, na confluência dos rios Rio Paraná e Paraguai, no final de 1865. No fim do ano de 1865, a ofensiva era da Tríplice Aliança. Seus exércitos já contavam mais de 50 mil homens e se preparavam para invadir o Paraguai.
Invasão do Paraguai
Fortalecidos, com um efetivo de cinquenta mil homens, os aliados lançaram-se à ofensiva. A invasão do Paraguai iniciou-se subindo o curso do rio Paraguai, a partir do Passo da Pátria. Sob o comando do general Manuel Luís Osório, e com o auxílio da esquadra imperial, transpuseram o rio Paraná, em 16 de abril de 1866, e conquistaram posição em território inimigo, em Passo da Pátria, uma semana depois.[15] De abril de 1866 a julho de 1868, as operações militares concentraram-se na confluência dos rios Paraguai e Paraná, onde estavam os principais pontos fortificados dos paraguaios. Durante mais de dois anos o avanço dos invasores foi bloqueado naquela região, apesar das primeiras vitórias da Tríplice Aliança.
A primeira posição a ser tomada foi a Fortaleza de Itapiru. Após a batalha do Passo da Pátria e a do Estero Bellaco (2 de maio), as forças aliadas acamparam nos pântanos de Tuiuti, em 20 de maio, onde sofreram um ataque paraguaio quatro dias depois. A primeira batalha de Tuiuti, a maior batalha campal da história da América do Sul e uma das mais importantes e sangrentas do conflito, foi vencida pelos aliados em 24 de Maio de 1866 e deixou um saldo de 10.000 mortos.
Por motivos de saúde, em julho de 1866 Osório passou o comando do 1.º Corpo de Exército brasileiro ao general Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão. Na mesma época, chegava ao teatro de operações o 2.º Corpo de Exército, trazido do Rio Grande do Sul pelo barão de Porto Alegre (10.000 homens).
O caminho para Humaitá não fora desimpedido. O comandante Mitre aproveitou as reservas de dez mil homens trazidos pelo barão de Porto Alegre e decidiu atacar as baterias do Forte de Curuzú e do Forte de Curupaiti, que guarneciam a direita da posição de Humaitá, às margens do rio Paraguai. A bateria de Curuzu foi conquistada em 3 de setembro pelo barão de Porto Alegre.[18] Não se obteve, porém, o mesmo êxito em Curupaiti, que resistiu ao ataque de 20 mil argentinos e brasileiros, guiados por Mitre e Porto Alegre, com apoio da esquadra do almirante Tamandaré. Em 22 de setembro, os aliados foram dizimados pelo inimigo: quase cinco mil homens morreram em poucas horas, na única vitória defensiva paraguaia em toda campanha.[15] Este ataque fracassado criou uma crise de comando e deteve o avanço dos aliados.
Nessa fase da guerra, destacaram-se muitos militares brasileiros. Entre eles, os heróis de Tuiuti: o general José Luís Mena Barreto, o brigadeiro Antônio de Sampaio, patrono da arma de infantaria do Exército brasileiro, o tenente-coronel Emílio Luís Mallet, patrono da artilharia e o próprio Osório, patrono da cavalaria, além do tenente-coronel João Carlos de Vilagrã Cabrita, patrono da arma de engenharia, morto em Itapiru.
Estagnação (1866-1868)
Comando de Caxias
No segundo período da guerra (1866-1869), os desentendimentos entre Osório (comandante das forças brasileiras) e o presidente argentino, que se opunha às perseguições aos paraguaios, levou o governo brasileiro a substituí-lo. Designado em 10 de outubro de 1866 para o comando das forças brasileiras, o marechal Luís Alves de Lima e Silva,[15] marquês e, posteriormente, Duque de Caxias. Assumiu suas funções em Tuiuti, em 19 de novembro, encontrando o exército praticamente paralisado. Os contingentes argentinos e uruguaios vinham sendo retirados aos poucos do exército dos aliados, assolado por epidemias. Desentendimentos entre Venâncio Flores (Uruguai) e Mitre (Argentina) e problemas internos fizeram ambos se retirarem do combate e voltarem a seus países, deixando o Brasil praticamente sozinho. Tamandaré foi substituído no comando da esquadra pelo almirante Joaquim José Inácio, futuro visconde de Inhaúma. Paralelamente, Osório organizou um 3.º corpo de exército no Rio Grande do Sul, com mais de cinco mil homens..[15] Na ausência de Mitre, Caxias assume o comando geral e providenciou a reestruturação do exército.
Entre novembro de 1866 e julho de 1867, Caxias organizou um corpo de saúde (para dar assistência aos inúmeros feridos e combater a epidemia de cólera-morbo) e um sistema de abastecimento das tropas. Conseguiu também que a esquadra imperial, que se ressentia do comando de Mitre, colaborasse nas manobras contra Humaitá. Nesse período, as operações militares limitaram-se a escaramuças com os paraguaios e a bombardeios da esquadra contra Curupaiti. López aproveitava a desorganização do inimigo para reforçar suas fortificações em Humaitá.
Apesar dos esforços de Caxias, os aliados só reiniciaram a ofensiva em 22 de julho de 1867. A marcha de flanco pela ala esquerda das fortificações paraguaias constituía a base tática de Caxias: ultrapassar o reduto fortificado paraguaio, cortar as ligações entre Assunção e Humaitá e submeter esta última a um cerco. Com este fim, Caxias iniciou a marcha em direção a Tuiu-Cuê. Em 1º de agosto Mitre retornou ao comando e insistia no ataque pela ala direita, que já se mostrara desastroso em Curupaiti. Embora a manobra de Caxias tenha sido bem-sucedida, o tempo decorrido possibilitou a López fortificar-se também nessa região e fechar de vez o chamado Quadrilátero.
Aliados retomam a ofensiva (1868-1869)
Tomada de Humaitá
Ver artigo principal: Passagem de Humaitá
Mitre deu ordens para que a esquadra imperial forçasse a passagem em Curupaiti e Humaitá. Em 15 de agosto, duas divisões de cinco encouraçados ultrapassaram, sem perdas, Curupaiti, mas foram obrigadas a deter-se frente aos poderosos canhões da fortaleza de Humaitá. O fato causou novas dissensões no alto comando aliado. Mitre desejava que a esquadra prosseguisse. Os brasileiros, entretanto, consideravam imprudente e inútil prosseguir, enquanto não se concatenassem ataques terrestres para envolver o Quadrilátero, que se iniciaram, finalmente, em 18 de agosto.
A partir de Tuiu-Cuê, os aliados rumaram para o norte e tomaram São Solano, Vila do Pilar e Tayi, às margens do rio Paraguai, onde completaram o cerco da fortaleza por terra e cortaram as comunicações fluviais entre Humaitá e Assunção. Em 3 de novembro de 1867, como reação, López atacou a retaguarda da posição aliada de Tuiuti. Nessa segunda batalha de Tuiuti, López esteve próximo da vitória, mas, graças ao reforço trazido pelo general Porto Alegre, os brasileiros venceram, com pesadas perdas.[15]
Em janeiro de 1868, com o afastamento definitivo de Mitre, que retornou à Argentina, Caxias voltou a assumir o comando geral dos aliados.[15] Em 19 de fevereiro a esquadra imperial, capitão de mar e guerra Delfim Carlos de Carvalho, depois barão da Passagem, forçou a passagem de Humaitá. Apesar os navios encouraçados terem ultrapassado a fortaleza, chegando a bombardear Assunção, só em 25 de julho de 1868 Humaitá, totalmente cercada, caiu após um demorado cerco.
Dezembrada
Solano López deixara Humaitá, com parte de suas tropas, em março, indo se instalar em San Fernando. Ali descobriu que alguns funcionários de seu governo e seu irmão Benigno tramavam derrubá-lo. Formado um conselho de guerra para julgar os implicados, centenas foram executados, no que ficou conhecido como o massacre de San Fernando.
Efetuada a ocupação de Humaitá, as forças aliadas comandadas por Caxias marcharam 200 km até Palmas, fronteiriça às novas fortificações inimigas (30 de setembro). Situadas ao longo do arroio Piquissiri, essas fortificações barravam o caminho para Assunção, apoiadas nas Fortificações de Lomas Valentinas. Ali, López havia concentrado 18 mil paraguaios em uma linha fortificada que explorava habilmente os acidentes do terreno e se apoiava nos fortes de Angostura e Itá-Ibaté. Renunciando ao combate frontal, o comandante brasileiro idealizou, então, a mais brilhante e ousada operação do conflito: a manobra do Piquissiri. Em 23 dias fez construir uma estrada de 11 km através do Chaco pantanoso que se estendia pela margem direita do rio Paraguai, enquanto forças brasileiras e argentinas encarregavam-se de diversões frente à linha do Piquissiri. Executou-se então a manobra: três corpos do Exército brasileiro, com 23.000 homens, foram transportados pela esquadra imperial de Humaitá para a margem direita do rio, percorreram a estrada do Chaco em direção ao nordeste, reembarcaram em frente ao porto de Villeta, e desceram em terra no porto de Santo Antônio e Ipané, novamente na margem esquerda, vinte quilômetros à retaguarda das linhas fortificadas paraguaias do Piquissiri. López foi inteiramente surpreendido por esse movimento, tamanha era sua confiança na impossibilidade de grandes contingentes atravessarem o Chaco.
Na noite de 5 de dezembro, as tropas brasileiras encontravam-se em terra e, em vez de avançar para a capital, já desocupada pela população e bombardeada pela esquadra, iniciaram no dia seguinte o movimento para o sul, conhecido como a "dezembrada" - a série de vitórias obtidas por Caxias em dezembro de 1868. No mesmo dia 6, o general Bernardino Caballero tentou barrar-lhes a passagem na ponte sobre o arroio Itororó. Na tomada da ponte de Itororó, Caxias partiu a galope em direção ao inimigo, com espada em punho, exclamando: "sigam-me os que forem brasileiros!". Vencida a batalha de Itororó, o Exército brasileiro prosseguiu na marcha e aniquilou na Batalha de Avaí, localidade de mesmo nome, em 11 de dezembro, as duas divisões de Caballero.
Em 21 de dezembro, tendo recebido o necessário abastecimento por Villeta, os brasileiros atacaram o Piquissiri pela retaguarda e, após seis dias de combates contínuos, conquistaram a posição de Lomas Valentinas, com o que obrigou a guarnição de Angostura a render-se em 30 de dezembro. As batalhas da Dezembrada exibiram espantosas mortandades dos dois lados, bem como tentativas de recuo das tropas brasileiras, impedidas graças à presença de Caxias na linha de frente. López, acompanhado apenas de alguns contingentes, fugiu para o norte, na direção da cordilheira.
Após destruir o exército paraguaio em Lomas Valentinas, Caxias acreditava que a guerra tinha acabado. Não se preocupou em organizar e chefiar a perseguição de López, pois parecia que o ditador fugia para se asilar em outro país e não, como se viu depois, para improvisar um exército e continuar a resistir no interior.
No dia 24 de dezembro os três novos comandantes da Tríplice Aliança (Caxias, o argentino Gelly y Obes e o uruguaio Enrique Castro) enviaram uma intimação a Solano López para que se rendesse. Mas López recusou-se a ceder e, acompanhado apenas de alguns contingentes, fugiu para o norte, na direção da cordilheira, chegando a Cerro León.
O comandante em chefe brasileiro se dirigiu para Asunción, evacuada pelos paraguaios e ocupada em 1.º de janeiro de 1869 por tropas imperiais comandadas pelo coronel Hermes Ernesto da Fonseca,[15] pai do futuro Marechal Hermes da Fonseca. No dia 5, Caxias entrou na cidade com o restante do exército e 13 dias depois, por motivo de saúde, deixou o comando e regressou ao Brasil. A partida de Caxias e de seus principais chefes militares fez crescer entre as tropas o desânimo, com a multiplicação dos pedidos de dispensa dos oficiais e voluntários.
Caça a Solano López (1869-1870)
Comando do Conde d'Eu
No terceiro período da guerra (1869-1870), o genro do imperador Dom Pedro II, Luís Filipe Gastão de Orléans, Conde d'Eu, foi nomeado para dirigir a fase final das operações militares no Paraguai, pois buscava-se, além da derrota total do Paraguai, o fortalecimento do Império Brasileiro. O marido da princesa Isabel era um dos poucos membros da família imperial com experiência militar, já que na década de 1850 participara, como oficial subalterno, da campanha espanhola na Guerra do Marrocos. A indicação de um membro da família imperial pretendia diminuir as dificuldades operacionais das forças brasileiras, problema agravado pelos muitos anos de campanha, pela insatisfação dos veteranos e pelos conflitos, políticos e pessoais, que se alastravam entre os oficiais mais experientes.
Em agosto de 1869, a tríplice aliança instalou em Asunción um governo provisório fantoche aliado de contrários a Solano, encabeçado pelo paraguaio Cirilo Antonio Rivarola. O Império acelerou o processo para a formação do governo, que prometerá realizar eleições democráticas no ano seguinte e criar uma assembleia constituinte.
Solano López, prosseguindo na resistência, refez um pequeno exército de 5000 homens, a maioria velhos, crianças e veteranos semi-inválidos[15] e 36 canhões na região montanhosa de Ascurra-Caacupê-Peribebuí, aldeia que transformou em sua capital. À frente de 12 mil homens, o conde d'Eu chefiou a campanha contra a resistência paraguaia, a chamada Campanha das Cordilheiras, encerrada em 18 de agosto.[15]
Principalmente no Brasil, após os conservadores terem voltado ao poder no camará imperial, se tornou prioridade a reconstrução do estado paraguaio. Para este ser reconhecido, era necessário a vitória sobre Solano. O processo foi acelerado pela entrada no governo argentino, em 1868, de Domingo Faustino Sarmiento, cujos desejos expansionistas o Império do Brasil temia.[11]
O exército brasileiro flanqueou as posições inimigas de Ascurra e venceu a batalha de Peribebuí (12 de agosto), para onde López transferira sua capital. Após a batalha de Peribuí, o Conde d'Eu parece ter-se exasperado com a obstinação paraguaia em continuar a luta, nada fazendo para evitar a degola de prisioneiros capturados durante e depois dos combates. Na batalha seguinte, Campo Grande ou Nhu-Guaçu (16 de agosto), as forças brasileiras se defrontaram com um exército formado, em sua maioria, por adolescentes e crianças e idosos, recrutados a força pelo ditador paraguaio. A derrota paraguaia encerrou o ciclo de batalhas da guerra. Os passos seguintes consistiram na mera caçada a López, que abandonou Ascurra e, seguido por menos de trezentos homens, embrenhou-se nas matas, marchando sempre para o norte.
Dois destacamentos foram enviados em perseguição ao presidente paraguaio, que se internara nas matas do norte do país acompanhado de 200 homens. No dia 1.º de março de 1870, as tropas do general José Antônio Correia da Câmara (1824-1893), o Visconde de Pelotas, surpreenderam o último acampamento paraguaio, em Cerro Corá,[15] onde Solano López foi ferido a lança pelo cabo Chico Diabo e depois baleado, nas barrancas do arroio Aquidabanigui, após recusar-se à rendição. Depois de Cerro Corá, as tropas brasileiras ficaram eufóricas, assassinando civis, pondo fogo em acampamentos e matando feridos e doentes que se encontravam nos ranchos.
Não era esse o desejo do imperador D.Pedro II, que preferia ter López preso a morto. No Rio de Janeiro, a morte de Lopéz foi muito bem recebida e o imperador recuperou sua popularidade que havia sido abalada pela dispendiosa guerra. Em 20 de junho de 1870, Brasil e Paraguai assinaram um acordo preliminar de paz.[11]
Consequências
Mortalidade
O Paraguai sofreu grande redução em sua população. A guerra acentuou um desequilíbrio entre a quantidade de homens. Algumas fontes[19] citam que 75% da população paraguaia teriam perecido ao final da Guerra.
Dos cerca de 160 mil brasileiros que combateram na Guerra do Paraguai as melhores estimativas apontam cerca de 50 mil óbitos e outros mil inválidos. Outros ainda estimam que o número total de combatentes pode ter chegado a 400 mil, com sessenta mil mortos em combate ou por doenças.
As forças uruguaias contaram com quase 5.600 homens, dos quais pouco mais de 3.100 morreram durante a guerra devido às batalhas ou por doenças.
Já a Argentina perdeu cerca de 18 mil combatentes dentre os quase 30 mil envolvidos. Outros 12 mil civis morreram devido principalmente a doenças.
Fato é que a Guerra do Paraguai não se diferenciou dos demais conflitos ocorridos durante o século XIX. As altas taxas de mortalidade não foram decorrentes somente por conta dos encontros armados. Doenças decorrentes da má alimentação e péssimas condições de higiene parecem ter sido a causa da maior parte das mortes. Entre os brasileiros, pelo menos metade das mortes tiveram como causa doenças típicas de situações de guerra do século XIX. A principal causa mortis durante a guerra parece ter sido o cólera.
Pós-guerra
Não houve um tratado de paz em conjunto. Embora a guerra tenha terminado em março de 1870, os acordos de paz não foram concluídos de imediato. As negociações foram obstadas pela recusa argentina em reconhecer a independência paraguaia.
O Brasil não aceitava as pretensões da Argentina sobre uma grande parte do Grande Chaco, região paraguaia rica em quebracho (produto usado na industrialização do couro). A questão de limites entre o Paraguai e a Argentina foi resolvida através de longa negociação entre as partes. A única região sobre a qual não se atingiu um consenso — a área entre o rio Verde e o braço principal do rio Pilcomayo — foi arbitrada pelo presidente estado-unidense Rutherford Birchard Hayes que a declarou paraguaia. O Brasil assinou um tratado de paz em separado com o Paraguai, em 9 de janeiro de 1872, obtendo a liberdade de navegação no rio Paraguai. Foram confirmadas as fronteiras reivindicadas pelo Brasil antes da guerra. Estipulou-se também uma dívida de guerra que foi a primeira dívida da história paraguaia e foi intencionalmente subdimensionada por parte do governo imperial do Brasil mas que só foi efetivamente perdoada em 1943 por Getúlio Vargas, em resposta a uma iniciativa idêntica da Argentina. O Paraguai perdeu 90 mil quilômetros quadrados para o Brasil nos tratados de paz.[20].
O reconhecimento da independência do Paraguai pela Argentina só foi feito na Conferência de Buenos Aires, em 1876, quando a paz foi estabelecida definitivamente.
Em dezembro de 1975, quando os presidentes Ernesto Geisel e Alfredo Stroessner assinaram em Assunção um Tratado de Amizade e Cooperação[21], o governo brasileiro devolveu ao Paraguai troféus da guerra.[22].
Conclusões
Resultados da guerra:[23]
PARAGUAI: destruição do Estado existente, perda de territórios vizinhos e ruína da economia paraguaia, de modo que mesmo décadas depois, não conseguiu se desenvolver da mesma forma que os vizinhos. Perdas na guerra: até 69% da população, a maioria devido a doenças, fome e exaustão física.
BRASIL: a guerra expôs a fragilidade militar-estrutural do Império, devido à escravidão, principalmente, mas saiu vitorioso militarmente e fortaleceu sua hegemonia até 1875. Reflexos internos: desequilíbrio orçamentário e no Tesouro brasileiro, além da forte dissociação entre Exército e monarquia, devido ao sentimento de identidade que se construiu durante a guerra. Perdas na guerra: 50 mil homens, devido a doenças e ao rigor do clima.
O tesouro real indicou um gasto de 614 mil contos de réis, provindos das seguintes fontes[24]:
- Empréstimo Estrangeiro: 49 (em milhares de contos de Réis)
- Empréstimo Interno: 27
- Emissão de dinheiro: 102
- Emissão de títulos: 171
- Imposto: 265
O conflito custou, pois, ao Brasil, quase onze anos do orçamento público anual, em valores de pré-guerra, o que permite compreender melhor o persistente "déficit" público nas décadas de 1870 e 1880. Também chama a atenção, nos números sobre as fontes dos recursos gastos na luta, a participação proporcionalmente pequena de empréstimos externos.
O Brasil levou à guerra em torno de 139 mil homens, de um total de pouco mais de 9 milhões de habitantes, ou seja, cerca de 1.5% da população. A origem conhecida dos efetivos, sem incluir os efetivos da Marinha, foram[25]:
- Voluntários da Pátria: 54.992
- Guarda Nacional: 59.669
- Recrutamento e Escravos Libertos: 8.489
- Total: 123.148
ARGENTINA: passou por inúmeras rebeliões federalistas contra o governo nacional, pelo descontentamento com a guerra; economicamente foi beneficiada, pois abasteceu as tropas brasileiras com produtos (principalmente carne e cereais) oriundos de Buenos Aires, mas também houve sangria do Tesouro nacional. A guerra contribuiu para a consolidação do Estado nacional argentino e para dinamizar sua economia. Perdas na guerra: 30 mil homens.
URUGUAI: sofreu impactos menores. Perdas na guerra: 5.000 soldados.
Alterações no plano regional: a guerra de certa forma substituiu a histórica rivalidade entre Argentina e Brasil pela cooperação entre os dois grandes países, uma aliança estratégica duradoura, embora as desconfianças entre os lados continuem até hoje. Durante todo o tempo da campanha, as províncias de Entre Rios e Corrientes abasteceram as tropas brasileiras com gado, gêneros alimentícios e outros produtos. Economicamente, os mais beneficiados foram os comerciantes argentinos durante a guerra.
O Brasil, que sustentou praticamente sozinho a guerra, pagou um preço alto pela vitória. Durante os cinco anos de lutas, as despesas do Império chegaram ao dobro de sua receita, provocando uma crise financeira. A escravidão passou a ser questionada, pois os escravos que lutaram pelo Brasil permaneceram escravos.[2]
O Exército Brasileiro passou a ser uma força nova e expressiva dentro da vida nacional. Transformara-se numa instituição forte que, com a guerra, ganhara tradições e coesão interna e representaria um papel significativo no desenvolvimento posterior da história do país. Além disso, houve a formação de um inquietante espírito corporativista no exército, que futuramente, formaria a República Federativa do Brasil.
Troféus de guerra
Durante o período de guerra o Paraguai sofreu com muitos saques realizados pelas tropas inimigas, tendo milhares de itens pilhados como troféus de guerra, entre eles documentos históricos, móveis e até peças de artilharia.
Por ordem de Bartolomé Mitre, móveis comprados pelo marechal Francisco Solano López na Alemanha, quando ainda chefe de estado paraguaio, foram saqueados e transportados para a Argentina, onde estavam em exibição no Museu Histórico de Entre Ríos até sua devolução, oficializada pela presidente Cristina Kirchner em 2011.[26]
Após vitória, o exército Brasileiro transportou para o Brasil o canhão El Cristiano, peça de artilharia produzida no Paraguai a partir da fundição de vários sinos de igrejas de Assunção. O canhão foi colocado no Forte de Curupaiti e foi decisivo para conter o avanço das tropas brasileiras e argentinas rumo ao Forte de Humaitá, que controlava o acesso a Assunção. [27]
O canhão ainda é fruto de disputas entre Brasil e Paraguai, em 2013 o presidente paraguaio Federico Franco solicitou a devolução da peça de artilharia ao seu país, que chegou a ser cogitada pelo governo brasileiro, porém esta solicitação ainda é contestada por historiadores e militares brasileiros devido a sua importância como patrimônio histórico nacional. El Cristiano segue em exposição no Pátio Epitácio Pessoa no Museu Histórico Nacional no Rio de Janeiro. [27][28]
Na cultura popular
Romances
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- DORATIOTO, Francisco. Maldita guerra. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
Filmes
Argentino hasta la muerte, de Fernando Ayala, Argentina (1971).
Cerro Cora, de Guillermo Vera, Paraguai (1978).
Guerra do Brasil, documentário de Sylvio Back, Brasil (1987).
Netto perde sua alma, de Beto Souza e Tabajara Ruas, Brasil (2001).
Cándido López - Los campos de batalla, documentário de José Luis García, Argentina (2005).
The Paraguayan War, documentário de Denis Wright, Brasil (2009).- "A Última Guerra do Prata" - documentário de 1:49 min., produzido pela TV Escola[30]
Ver também
- Cronologia da Guerra do Paraguai
- História militar do Brasil
Referências
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PERNIDJI, Joseph Eskenazi e PERNIDJI, Mauricio Eskenazi. Homens e Mulheres na Guerra do Paraguai . Imago, 2003.- PORTO-ALEGRE, Achylles. Homens Illustres do Rio Grande do Sul. Livraria Selbach, Porto Alegre, 1917.
- SILVA, Alfredo P.M. Os Generais do Exército Brasileiro, 1822 a 1889, M.Orosco & Co., Rio de Janeiro, 1906, vol. 1, 949 pp.
- MAGNOLI, Demétrio - História da Guerras, Editora Contexto,2009
Ligações externas
- O diário El Centinela, coleção de artigos de jornal dos paraguaios durante a guerra
Cartas dos campos de batalha do Paraguai, autor Richard Burton
Ordens e Medalhas Militares do Brasil (página arquivada)- Matéria sobre papel do general Osório na Guerra do Paraguai
- Fotos antigas do Paraguai (Guerra do Paraguai)
- Novas lições do Paraguai
- Localização de Cerro Corá em Google Maps
Latin America's wars Vol. 1, The age of the Caudillo, 1791-1899 de Robert L. Scheina- Guerra do Paraguai