Morte
Nota: Para outros significados, veja Morte (desambiguação).
Morte (do latim mors),[1]óbito (do latim obitu),[2]falecimento (falecer+mento),[3]passamento (passar+mento),[4] ou ainda desencarne (deixar a carne), são sinônimos usados para se referir ao processo irreversível de cessamento das atividades biológicas necessárias à caracterização e manutenção da vida em um sistema outrora classificado como vivo. Após o processo de morte o sistema não mais vive; e encontra-se morto. Os processos que seguem-se à morte (pós-mortem) geralmente são os que levam à decomposição dos sistemas. Sob condições ambientais específicas, processos distintos podem segui-la, a exemplo aqueles que levam à mumificação natural ou a fossilização de organismos.
A morte faz-se notória e ganha destaque especial ao ocorrer em seres humanos. Não há nenhuma evidência científica de que a consciência continue após a morte,[5][6] no entanto existem várias crenças em diversas culturas e tempos históricos que acreditam em vida após a morte.
Com notórias consequências culturais e suscitando interesse recorrente na Filosofia, existem diversas concepções sobre o destino da consciência após a morte, como as crenças na ressurreição (religiões abraâmicas), na reencarnação (religiões orientais, Doutrina Espírita, etc) ou mesmo o eternal oblivion ("esquecimento eterno"), conceito esse o comum na neuropsicologia e atrelado à ideia de fim permanente da consciência após a morte.[7]
As cerimônias de luto e práticas funerárias são variadas. Os restos mortais de uma pessoa, comumente chamado de cadáver ou corpo, são geralmente enterrados ou cremados. A forma de disposição mortuária pode contudo variar significativamente de cultura para cultura. Entre os fenômenos que induzem a morte, os mais comuns são: envelhecimento biológico (senescência), predação, desnutrição, doenças, suicídio, assassinato, acidentes e acontecimentos que causam traumatismo físico irrecuperável.[8]
Índice
1 Considerações
2 Morte humana
3 Pós-morte
4 Personificação da morte
5 Na história
6 Na ciência
6.1 Morte e consciência
6.2 Experiência de quase morte
7 Culto dos mortos em Portugal
8 Tabus e crenças sobre a morte dos nativos das Américas
9 Ver também
10 Referências
11 Indicações bibliográficas
12 Ligações externas
Considerações |
Biologicamente, a morte pode ocorrer para todo o organismo ou apenas para parte dele. É possível para células individuais, ou mesmo órgãos, morrerem e ainda assim o organismo continuar a viver. Muitas células individuais vivem por apenas pouco tempo e a maior parte das células de um organismo são continuamente substituídas por novas células.[9]
A substituição de células, através da divisão celular, é definida pelo tamanho dos telômeros e ao fim de um certo número de divisões, cessa. Ao final deste ciclo de renovação celular, não há mais replicação, e o organismo terá de funcionar com cada vez menos células. Isso influenciará o desempenho dos órgãos num processo degenerativo até o ponto em que não haverá mais condições de propagação de sinais químicos para o funcionamento das funções vitais do organismo; implicando a chamada morte natural, por velhice.
Também é possível que um animal continue vivo, mas sem sinal de atividade cerebral (morte cerebral); nestas condições, tecidos e órgãos vivem e podem ser usados para transplantes. Porém, neste caso, os tecidos sobreviventes precisam ser removidos e transplantados rapidamente ou morrerão também. Em raros casos, algumas células podem sobreviver, como no caso de Henrietta Lacks, da qual células cancerígenas foram retiradas do seu corpo por um cientista, continuando a multiplicar-se indefinidamente.
A irreversibilidade é normalmente citada como um atributo da morte. Cientificamente, é impossível trazer de novo à vida um organismo morto, e se um organismo vive, é porque ainda não morreu anteriormente. Contudo existem casos que no mínimo chamam bastante a atenção e suscitam questionamentos quanto às definições de vida e morte. Um deles cerca um grupo de animais invertebrados denominados Rotiferas, que possuem uma capacidade denominada criptobiose, que consiste no "cessar" metabólico quando as condições ambientais não estão favoráveis. Eles podem manter-se assim por meses ou mesmo anos até que as condições se restabelecerem, e então "religarem" seus processos biológicos, retomando a sua vida normalmente. Se o conceito de morte for estendido a tais paralisações metabólicas, esses animais literalmente morrem e depois renascem. Igualmente, ovos de camarões (Shrimp Hatchery) desidratados são incluídos em quites de microscopia para laboratório didáticos, e assim podem permanecer por mais de cinco anos. Quando imersos em salmoura adequada, hidratam-se, desenvolvem-se plenamente e geram, em poucas semanas, camarões crescidos, implicando um literal processo de ressurreição de tais ovos.[10] O caso limite é o do vírus, que até hoje permanece cientificamente exatamente sobre a fronteira que separa os seres vivos dos não vivos, e por tal traz muito trabalho aos taxonomistas.
Muitas pessoas não acreditam que a morte física é sempre e necessariamente irreversível, enquanto outras acreditam em ressurreição do espírito ou do corpo e outras ainda, têm esperança que futuros avanços científicos e tecnológicos possam trazê-las de volta à vida, utilizando técnicas ainda embrionárias, tais como a criogenia ou outros meios de ressuscitação ainda por descobrir.
Alguns biólogos acreditam que a função da morte é primariamente permitir a evolução.
Morte humana |
Historicamente, tentativas de definir o momento exato da morte foram problemáticas. A identificação do momento exato da morte é importante, entre outros casos, no transplante de órgãos, porque tais órgãos precisam de ser transplantados, cirurgicamente, o mais rápido possível.
Morte já foi anteriormente definida como parada cardíaca e respiratória mas, com o desenvolvimento da ressuscitação cardiopulmonar e da desfibrilação, surgiu um dilema: ou a definição de morte estava errada, ou técnicas que realmente ressuscitavam uma pessoa foram descobertas: em vários e vários casos, respiração e pulso cardíaco são realmente restabelecidos após cessarem. Em vista da nova tecnologia, atualmente a definição médica de morte é conhecida como morte clínica, morte cerebral ou parada cardíaca irreversível.
A morte cerebral é definida pela cessão de atividade eléctrica no cérebro, mas mesmo aqui há correntes divergentes. Há aqueles que mantêm que apenas a atividade eléctrica do neo-córtex deve ser considerada a fim de se definir a morte. Por padrão, é usada contudo uma definição mais conservadora de morte: a interrupção da atividade elétrica no cérebro como um todo, incluso e sobretudo no tronco encefálico - responsável entre outros pelo controle de atividades vitais essenciais como batimentos cardíacos e respiração - e não apenas no neo-córtex, diretamente associado à consciência.[11] Essa definição - a de morte cerebral - é a adotada, por exemplo, na "Definição Uniforme de Morte" nos Estados Unidos.
Mesmo frente a uma definição precisa de morte, a determinação da mesma ainda traz suas peculiaridades, e pode ser difícil. A exemplo, EEGs podem detectar pequenos impulsos elétricos onde nenhum existe, enquanto houve casos onde atividade cerebral em um dado cérebro mostrou-se baixa demais para que EEGs os detectassem. Por causa disso, vários hospitais possuem elaborados protocolos determinando morte envolvendo EEGs em intervalos separados, e não raro mediante os pareceres autônomos de no mínimo dois médicos.
A história médica contém muitas referências a pessoas que foram declaradas mortas por médicos, e durante os procedimentos para embalsamento eram encontradas vivas. Histórias de pessoas enterradas vivas levaram um inventor no começo do século XX a desenhar um sistema de alarme que poderia ser ativado dentro do caixão.
Por causa das dificuldades na definição de morte, na maioria dos protocolos de emergência, mais de uma confirmação de morte, tipicamente fornecida por médicos diferentes, é necessária. Alguns protocolos de treinamento, por exemplo, afirmam que uma pessoa não deve ser considerada morta a não ser que indicações óbvias que a morte ocorreu existam, como decapitação ou dano extremo ao corpo. Face a qualquer possibilidade de vida, e na ausência de uma ordem de não-ressuscitação, equipes de emergência devem proceder ao transporte o mais imediato possível até ao hospital, para que o paciente possa ser examinado por um médico. Isso leva à situação comum de um paciente ser dado como morto à chegada do hospital.
Pós-morte |
A questão de o que acontece, especialmente com os humanos, durante e após a morte, ou o que acontece "uma vez morto", se pensarmos na morte como um estado permanente, é uma interrogação frequente, literalmente uma questão latente na psique humana. Tais questões vêm de longa data, e a crença numa vida após a morte com uma posterior reencarnação ou mesmo a passagem para outros mundos embora muito antigas, são ainda muito difundidas socialmente (veja submundo). Para muitos, a crença e informações sobre a vida após a morte resultam de uma mera busca por consolação ou mesmo de uma covardia em relação à morte de um ser amado ou à prospecção da inevitabilidade de sua própria morte. A crença em vida após a morte pode para esses trazer algum consolo, contudo crenças como o medo do Inferno ou de outras consequências negativas podem tornar a morte algo muito mais temido. A contemplação humana da morte é uma motivação importante para o desenvolvimento de sistemas de crenças e religiões organizadas. Por essa razão, palavra passamento quando dita por um espírita, significa a morte do corpo. A passagem da vida corpórea para a vida espiritual.
Apesar desse ser conceito comum a muitas crenças, ela normalmente segue padrões diferentes de definição de acordo com cada filosofia. Várias religiões creem que após a morte o ser vivo ficaria junto do seu criador, para os cristãos, Deus.
Muitos antropólogos sentem que os enterros fúnebres atribuídos ao Homem de Neanderthal / Homo neanderthalensis, onde corpos ornamentados estão em covas cuidadosamente escavadas, decoradas com flores e outros motivos simbólicos, é evidência de antiga crença na vida após a morte.
Do ponto de vista científico, não se confirma a idéia de uma vida após a morte. Embora grande parte da comunidade científica sustente que isso não é um assunto que caiba à ciência resolver, e que cientificamente não há evidências que corroborem a existência de espíritos ou algo com função similar que sobreviva após a morte,[11][12] muitos pesquisadores tentaram e ainda tentam entrar nesse campo estudando por exemplo as chamadas "experiências de quase-morte". Para eles, o conceito de "vida" se associa ao de "consciência", contudo consciência não atrela-se à matéria conhecida.[11][12]
Ao fim, consideram-se em essência três hipóteses:
- A consciência existe unicamente como resultado de correlações materiais.[12] Essa hipótese é a que encontra corroboração científica atualmente, e se for verdadeira, a vida cessa de existir no momento da morte.
- A consciência não tem origem física e sim transcendente à matéria,[12] usando o corpo físico apenas como instrumento para se expressar. Se esta hipótese for verdadeira, certamente há uma existência de consciência após a morte e não obstante também antes da vida física, o que leva diretamente às tentativas de validação da reencarnação. É a adotada na Doutrina Espírita; sendo igualmente utilizada por várias outras doutrinas espiritualistas para validar os acontecimentos por eles presenciados e assumidos como transcendentais; bem como para explicarem-se os êxtases em cultos de neopaganismo.
- A consciência tem uma origem física e encontra-se atrelada ao cérebro, mas há uma distinção entre os estados físicos da matéria (da massa encefálica) e os pensamentos que deles derivam.[12] Nessa linha de pensamento há alguns que vão adiante e alegam que a consciência atrela-se a algum tipo de matéria imponderável que, embora relacionada à matéria ordinária, não se decompõe como a primeira quando da morte. A hipótese também é, neste caso, compatível com a reencarnação e com a filosofia das doutrinas espiritualistas (ver perispírito).
Personificação da morte |
Ver artigo principal: Morte (personificação)
A morte como uma entidade sensível é um conceito que existe em muitas sociedades desde o início da história. A morte também é representada por uma figura mitológica em várias culturas. Na iconografia ocidental ela é usualmente representada como uma figura esquelética vestida de manta negra com capuz e portando uma foice/gadanha. É representada nas cartas do Tarot e frequentemente ilustrada na literatura e nas artes.
A associação da imagem com o ceifador está relacionada ao trigo, que na Bíblia simboliza a vida. Em inglês, é geralmente dado à morte o nome de "Grim Reaper". Também é dado o nome de Anjo da Morte (em hebraico: מַלְאַךְ הַמָּוֶת Malach HaMavet), decorrente da Bíblia.
A morte também é uma figura mitológica que tem existido na mitologia e na cultura popular desde o surgimento dos contadores de histórias. Na mitologia grega, Tânato seria a divindade que personificava a morte, e Hades, o deus do mundo da morte.
O ceifador também aparece nas cartas de tarô e em vários trabalhos televisivos e cinematográficos. Uma das formas dessa personificação é um grande personagem da série Discworld de Terry Pratchett, com grande parte dos romances centrando-se nela como personagem principal.
Em alguns casos, essa personificação da morte é realmente capaz de causar a morte da vítima,[13] gerando histórias de que ela pode ser subornada, enganada, ou iludida, a fim de manter uma vida. Outras crenças consideram que o espectro da morte é apenas um psicopompo e serve para cortar os laços antigos entre a alma e o corpo e para orientar o falecido ao outro mundo sem ter qualquer controle sobre o fato da morte da vítima.
Morte em muitas línguas é personificada na forma masculina (como no inglês), enquanto em outros ela é percebida como uma personagem feminina (por exemplo, em línguas eslavas e latinas). A série Supernatural apresentou uma visão nova da morte, onde um dos cavaleiros do apocalipse, juntamente com a morte em sua personificação humana, discutem com o personagem principal sobre sua origem. Durante o diálogo ela afirma ser mais velha do que Deus, e que também acima dos céus e da terra, além de também existir em outros planetas, ela leva a vida para o abismo há muito tempo.
Os mexicanos personificam a morte na figura da Santa Muerte, uma deusa resultante do sincretismo entre as mitologias católica e mesoamericanas.
Na história |
As Ordenações Filipinas - conjunto de leis que servia de base para o direito português na época do Brasil Colônia, previa a "morte natural" em duas versões: "natural cruel" e "natural atroz". Na "morte cruel", o corpo do condenado era objeto de vingança e, por isso, devia ser torturado vivo. A finalidade era prolongar o sofrimento da vítima.[14]
No caso da condenação por "morte natural atroz", a vítima teria ainda seus bens confiscados e a família seria atingida até a geração dos netos. Essa punição era considerada mais branda que a da "morte natural cruel" e o condenado podia ser esquartejado depois de morto. Em ambos os casos era ressaltado o "caráter pedagógico" da degradação do cadáver. Era a "pedagogia do domínio" pelo medo, "aprendida" por todos que presenciavam o "espetáculo".[15]
Exemplo conhecido de sentenciado com a "morte natural cruel" é a de um dos inconfidentes. A essa pena Tiradentes foi condenado em 1792.
No final do século XVIII, o direito português previa a "morte natural para sempre": proibia o sepultamento do cadáver, que teria as partes do corpo expostas até a decomposição completa.[15]"
Na ciência |
A morte, no ramo das ciências, é estudada pela tanatologia. Nesse sentido são estudados causas, circunstâncias, fenômenos e repercussões jurídico-sociais, sendo amplamente utilizados na medicina legal. No Brasil o diagnóstico da morte é regido pela resolução 1.480/97 do Conselho Federal de Medicina. A morte também é estudada em outros ramos da ciência, notadamente os relacionados a tratar doenças e traumatismos evitando que elas ocorram. No mesmo sentido uma das estatísticas mundialmente utilizadas para ações governamentais de prevenção são as taxas de mortalidade. Alguns estudos da ciência abordam as experiências de quase morte no sentido de entender os fenômenos correlacionados na quase morte.
Morte e consciência |
Devido a dicotomia mente-corpo — monismo ou dualismo[11] — muitos debates cercam a questão sobre o que acontece com a consciência quando o corpo morre. A crença na vida após a morte baseia-se em relatos, experiências, revelações divinas e exercícios lógicos, sendo um conceito primordial de praticamente todas as religiões. Para os que não acreditam que exista continuidade após a morte e rejeitam a veracidade dos indícios contrários (por não serem científicos), a consciência e personalidade é apenas o produto de um cérebro em funcionamento.[16] Sendo assim, o cessamento da atividade cerebral significaria o final da existência do indivíduo, não havendo nada após isso.[17][18] A visão monista é a cientificamente suportada em virtude primeiro da ausência factual científica necessária ao suporte da visão dualista; e em segundo devido a considerações levantadas quanto se busca definir de forma rigorosa o que é "consciência"; sobretudo diante da perspectiva dos avanços em biotecnologia, onde a possibilidade de se construir uma máquina com consciência não pode ser mais tratada como mera ficção científica.[11]
Experiência de quase morte |
Ver artigo principal: Experiência de quase morte
Um dos ramos da ciência relatados através de vários casos de quase morte estuda os sentimentos declarados de pacientes que recuperaram suas funções vitais depois de uma intervenção médica. São comuns relatos de pessoas que dizem ter visto uma luz, um túnel iluminado e, às vezes, vendo-se a si mesmo, fora do próprio corpo, a exemplo durante uma cirurgia. Esses relatos dividem opiniões de especialistas que defendem as causas religiosas no sentido de que a "luz" vivenciada pelos pacientes de quase morte era a luz que indicava o caminho para o mundo pós-morte (visão dualista).
Até o momento a visão suportada cientificamente sobre esse fenômeno é a monista, a de que são alterações químicas e funcionais no cérebro - agravadas se há falta de oxigenação adequada aos tecidos, algo comum em cirurgias graves - que fazem o paciente ter alucinações durante a ocorrência das anormalidades. Os avanços das técnicas de mapeamento cerebral e de mecanismos excitatórios cerebrais contribuíram significativamente para a compreensão da experiência de quase-morte. A exemplo, o estímulo direto dos lobos temporais pode induzir a sensação de uma presença invisível ou "divina": um capacete construído pelo médico Michal Persinger e por ele denominado "capacete de Deus" induz experiências "espirituais" em 80% daqueles que o experimentam. Modificações induzidas no funcionamento dos lobos parietais simulam experiências extrassensoriais, entre elas corporificações e a sensação de se "sair do corpo".[11]
Em experimentos realizados em aceleradores centrípetos, que visam a compreender as reações psicofisiológicas humanas em presença de enormes acelerações, após momentaneamente desmaiarem dada a incapacidade circulatória, as pessoas submetidas ao teste relatam quase sempre alucinações análogas às apresentadas pelas pessoas que passaram por experiências de quase-morte, incluso a experiência de se ver fora do corpo; muito embora, nesses experimentos controlados, as pessoas em testes sejam seguramente mantidas longe do limite entre a vida e a morte.[19] A compreensão das reações humanas à bruscas acelerações mostra-se importante a exemplo na aviação militar, onde facilmente os pilotos encontrar-se-ão submetidos a enormes acelerações, usualmente medida via múltiplo da aceleração da gravidade, ou de seu próprio peso, mediante a chamada força G.
O psiquiatra e parapsicólogo Dr. Raymond Moody popularizou termo "experiência de quase-morte" com seu livro escrito em 1975, "Vida Depois da Vida". O livro ganhou atenção do público em geral para o conceito de experiência de quase-morte. Entretanto, relatos dessas experiências sempre ocorreram na história. A obra "A República" (Livro X), de Platão, escrita no século IV a.C., contém a lenda de um soldado chamado Er que teve uma experiência semelhante depois de ter sido ferido em combate. Er descreveu sua alma deixando seu corpo e, do céu, viu-a sendo julgada junto com outras almas[20][21]
As "experiências de quase-morte" caracterizam-se, em sua quase totalidade, pelas seguintes percepções:
Sensações de tranquilidade - essas sensações podem incluir paz, aceitação da morte, conforto físico e emocional;
Luz radiante, pura e intensa - é uma luz que muitas vezes preenche o quarto. Em vários casos o indivíduo associa-a ao Céu e a Deus;
Experiências fora do corpo - a pessoa sente que deixou seu corpo. Em vários casos o indivíduo afirma que vê seu corpo e descreve com certa precisão o ato dos médicos trabalhando nele.[22]
Entrando em outra realidade ou dimensão - dependendo das crenças religiosas da pessoa ela pode se sentir entrando num portal de novas dimensões
Seres espirituais - a pessoa sente-se encontrando "seres de luz" ou de outras representações de entidades espirituais. Ela pode perceber esses seres como entes queridos que morreram, anjos, santos ou Deus.
Culto dos mortos em Portugal |
Segundo Leite de Vasconcelos na noite de Todos os Santos, em Barqueiros, era tradição preparar, à meia-noite, uma mesa com castanhas para os mortos da família irem comer; e depois ninguém mais tocava nas castanhas porque se dizia que estavam “babada dos defuntos”. É também costume deixar um lugar vago à mesa para o morto ou deixar a mesa cheia de iguarias toda a noite da consoada para as "alminhas".[23]
Leite de Vasconcelos também considerava o magusto, festa popular em que amigos e famílias se juntam para assar e comer castanhas, como o vestígio de um antigo sacrifício em honra dos mortos.
- Nesta noite ninguém cuide
- Encontrar-se à mesa a sós!
- Porque os nossos q'ridos mortos
- Vão sentar-se junto a nós.
Outras manifestações do culto dos mortos são as alminhas e os cruzeiros, pequenos monumentos de devoção que se encontram frequentemente na beira dos caminhos, os Fiéis de Deus e a tradição de pedir o pão-por-deus.
Nas Viagens do Barão de Rozmital, de 1465 a 1467, encontram-se algumas referências aos clamores e brados e outras tradições fúnebres: « Ha
também alli esta costumeira : morrendo alguém, levam para a
egreja vinho, carne, pão e outras comidas ; os parentes do morto
acompanham o funeral vestidos de roupas brancas próprias dos
enterros com capuzes á maneira dos monges, com o qual vestuário se vestem de um modo admirável. Aquelles porém, que são
assalariados para carpirem o defuncto vão vestidos com roupa
preta, e fazem um pranto como o d'aquelles que entre nós pulam
de contentes ou estão alegres por terem bebido. »[24]
Tabus e crenças sobre a morte dos nativos das Américas |
Algumas tribos de nativos do Novo Mundo acreditavam que havia algum tipo de vida após a morte. Outras consumiam a carne ou ossos de familiares mortos, pois pensavam que assim adquiririam as boas qualidades da pessoa morta.[25]
Quando algum índio importante de tribos da Bahia falecia era enterrado com suas armas e objetos usados no dia a dia e para que pudesse se alimentar, alimentos e água eram disponibilizados.[26] O pio do gavião caracará era temido pelos índios amazônicos uma vez que acreditam que era o anúncio de morte na aldeia.[27]
Os Camacan da Bahia colocavam sobre a sepultura do índio morto pedaços de carnes e quando eles desapareciam (comidos por outros animais ou por outros motivos), evitava-se comer aquele tipo de caça.[28] Entre os Maués da Amazônia a família da pessoa morta abstinha-se de comer banana, peixe pego em anzol ou com o emprego do timbó e alguns tipos de caça.[29] Os Aruak de Roraima cremavam os mortos e as cinzas eram guardadas em pequenas urnas. Por ocasião da data de aniversário do falecido um punhado da cinza era misturado ao mingau de banana e consumido pelos parentes. Outras tribos misturavam as cinzas ao caxiri, uma bebida fermentada, e assim as ingeriam.[30]
Os Tariana e os Tucano desenterravam seus mortos após um mês do funeral e os colocavam em uma grande panela até que as partes moles desaparecessem. Os ossos, após carbonizados, eram triturados e reduzidos a pó. Este era colocado em vários cochos cheios de caxirí. A mistura era bebida pelos presentes, que acreditavam que estavam ingerindo as boas qualidades do falecido. Entre os Kubewãna era costume desenterrar grandes líderes mortos há mais de quinze anos, triturar seus ossos e misturá-los a uma bebida grossa à base de milho e ingeri-los em grandes festas regadas a caxirí. Os Arapium, índios que viveram nos séculos XVII e XVIII a oeste do Rio Tapajós, também bebiam as cinzas dos seus mortos misturadas a bebidas.[31]
Os Jumana da região dos rio Japurá e rio Solimões cremavam seus mortos e tomavam as cinzas misturadas com bebidas, uma vez que acreditavam que a alma da pessoa estava nas cinzas e voltava a viver no corpo de quem ingeria a bebida.[30] Os Waiká da Amazônia adicionavam as cinzas à sopa de plátano e os Surara, também da Amazônia, ao mingau de banana. Entre os indígenas que habitavam no início do século XVII na região da serra da Ibiapaba, entre Ceará e Piauí, se o morto era do sexo masculino as mulheres comiam sua carne e moíam seus ossos, bebendo-o para não sentirem saudades do ente querido. As mulheres dos Tarairiu do Rio Grande do Norte repartiam o cadáver, moqueavam e lamentavam sua morte enquanto comiam a carne e roíam os ossos[31]
Ver também |
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Referências
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Ligações externas |
- Commons
- Wikiquote
- Wikcionário
- Tanatologia
O Véu da Morte Compreender o evento morte, uma perspectiva rosacruciana
- Compreendendo a Morte