Cripteia




Cripteia (em grego antigo: κρυπτεία krupteía de κρυπτός kruptós, "oculto, secreto") é uma Tradição cultural ou um Rito de passagem praticado por jovens espartanos que integrava o regime de educação Agogê, quando esses jovens experimentavam um período de exclusão, violência e inversão.[1] Os historiadores acreditam que servir na Cripteia era um rito de passagem para a compleição do próprio Agogê, durante o qual os soldados aprendiam a como se camuflar e ganhavam experiência para um combate corpo a corpo.[2]


A Cripteia pode ser ainda definida como uma polícia secreta criada para sufocar levantes de Hilotas pelo interior.[3] Os estudiosos divergem, contudo, se a matança de Hilotas era uma adaptação de um antigo ritual ou se já era parte da Cripteia desde o início.[4]


Ao dezoito anos o jovem espartano passava por um treinamento para adolescentes e ingressava num período provisório em que era supervisionado por outros jovens ou "líderes de grupos" (Bouagos) - talvez um líder para cada dez jovens - ou se juntava à Cripteia por um período de dois anos[5]. Os espartanos declaravam guerra aos Hilotas anualmente, de modo que não havia problema ou culpa alguma em assassiná-los. Durante essa iniciação, os jovens dormiam de dia e perambulavam à noite, assassinando e descartando os corpos de quaisquer Hilotas que encontrassem no caminho. Eles também observavam os Hilotas trabalhando de dia nos campos, a fim de selecionar os que pareciam mais fortes e saudáveis ou que exibiam qualidades de liderança.[6] O objetivo da caçada era demonstrar aos Hilotas que eles estavam sob constante observação[5][7]. Armados com apenas uma adaga ou faca, os membros da Cripteia tinham a tarefa de assassinar os Hilotas, escravos do estado da Esparta. Não se pode afirmar ao certo se os membros da Cripteia realizavam a tarefa individualmente ou em pequenos grupos[8].


Platão descreve a prática em seu diálogo intitulado Leis, no qual a registra como um longo teste de resistência individual sem equipamento ou proteção durante o inverno:




...é o treinamento, amplamente predominante entre nós, de perseverança e resistência à dor, através tanto de concursos manuais quanto de roubos realizados sob o risco de surras, além disso, a "Cripteia", como é chamada, oferece uma formação maravilhosamente severa [633C] para a coragem, já que os homens ficam descalços no inverno, dormem sem cobertores e não têm servos, mas se atem-se a si mesmos e perambulam por toda a zona rural, tanto de noite quanto de dia.(...)

Platão, Leis - I. 633b-c[9]



O historiador francês Pierre Vidal-Naquet, por sua vez, sugere que a situação dos jovens na Cripteia era sistematicamente oposta à situação regular de um hoplita espartano. Os hoplitas lutavam em formações organizadas, as Falanges, enquanto os jovens perambulavam solitários ou em grupos irregulares; os hoplitas portavam armamento pesado, enquanto os jovens rapazes traziam consigo apenas uma adaga; os hoplitas lutavam em campos abertos, durante o dia e no verão, enquanto os jovens atacavam sorrateiramente à noite, supostamente no inverno, na região montanhosa do interior; os hoplitas faziam suas refeições em conjunto, enquanto os jovens comiam o que conseguiam furtar sem ser pegos.[1]





Referências




  1. ab Matthew Clark. Exploring Greek Myth. John Wiley & Sons; 2012. ISBN 978-1-4443-6213-8. p. 113.


  2. Louise Park; Timothy Love. The Spartan Hoplites. Marshall Cavendish; 2009. ISBN 978-0-7614-4449-7. p. 10.


  3. Sacks, David (1995). Oswyn Murray, ed. A Dictionary of the Ancient Greek World (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press. p. 107. ISBN 9780195112061  "A Cripteia (sociedade secreta) foi um grupo oficial espartano dedicado a eliminar hilotas subversivos."


  4. Simon Hornblower; Antony Spawforth; Esther Eidinow. The Oxford Classical Dictionary. Oxford University Press; 2012. ISBN 978-0-19-954556-8. p. 786.


  5. ab "Por dois anos um jovem espartano poderia assassinar qualquer suspeito de ser um subversor.", John Car. Sparta's Kings. Casemate Publishers; 2012. ISBN 978-1-78337-634-6. p. 11.


  6. "A vigilância espartana chegava a formas extremas: um grupo de jovens espartanos chamado de Cripteia era designado para assassinar líderes em potencial entre os hilotas.", Peter P. Hinks; John R. McKivigan; R. Owen Williams. Encyclopedia of Antislavery and Abolition. Greenwood Publishing Group; 2007. ISBN 978-0-313-33143-5. p. 323.


  7. Alfred S. Bradford. Leonidas and the Kings of Sparta: Mightiest Warriors, Fairest Kingdom. ABC-CLIO; 2011. ISBN 978-0-313-38598-8. p. 46.


  8. Bernhard Lang. Hebrew Life and Literature: Selected Essays of Bernhard Lang. Ashgate Publishing, Ltd.; 2008. ISBN 978-0-7546-6618-9. p. 133.


  9. Platão, Leis - I. 633b-c








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