Comencíolo
Nota: Para o irmão do imperador Focas, veja Comencíolo (irmão de Focas).
Comencíolo | |
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Morte | 602 |
Nacionalidade | Império Bizantino |
Ocupação | General |
Principais trabalhos |
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Comencíolo (em latim: Comentiolus; em grego: Κομεντίολος; transl.: Komentiolos) foi um proeminente general bizantino do século VI que serviu ao imperador Maurício I (r. 582–602) até a sua morte em 602. De origem Trácia, aparece pela primeira vez em 583, quando participou numa embaixada bizantina ao cagano ávaro Baiano I (r. 562–602) e acabou preso por ele após alegadamente dizer uma frase imprópria. Em 584, liderou uma brigada contra contingentes eslavos invasores, conseguindo bons resultados, e como recompensa foi nomeado em 585 como patrício. No mesmo ano continuou suas operações contra os eslavos e por 587 era comandante de 10 000 homens com os quais pretendia interceptar o cagano ávaro.
Em 589, possivelmente tornou-se mestre dos soldados da Espânia e no outono substituiu o general Filípico no comando do exército oriental na guerra em andamento contra o Império Sassânida do xá Hormisda IV (r. 579–589). Nesse ano ele conseguiu uma importante vitória contra os sassânidas e no ano seguinte auxiliou Maurício I em sua empreitada para recolocar Cosroes II (r. 590–628) no trono da Pérsia após o último ser vítima dum golpe liderado por Vararanes VI (r. 590–591). Em 598, Comencíolo reaparece como comandante dos exércitos bizantinos na Trácia nos conflitos contra os eslavos e ávaros e por 602, quando o exército trácio rebelou-se sob Focas (r. 602–610), foi executado por apoiar Maurício I após a tomada de Constantinopla.
Biografia |
Nada se sabe sobre os primeiros anos da vida de Comencíolo, exceto que era originário da Trácia. Aparece pela primeira vez em 583, já como escrivão dos excubitores, a guarda pessoal do imperador, e acompanhando uma embaixada bizantina ao cagano ávaro Baiano I (r. 562–602). De acordo com Teofilato Simocata, ele enfureceu o cagano com uma frase fora de hora e foi aprisionado por um curto período.[1] É provável que a confiança que recebia de Maurício venha da época que o imperador havia sido comandante dos excubitores antes de ascender ao trono. Por toda sua carreira, Comencíolo permaneceria leal a Maurício e o imperador, por sua vez, cuidaria da carreira de seu protegido.[2]
No ano seguinte à embaixada, após uma trégua com os ávaros ter sido acordada, Comencíolo foi encarregado duma brigada (taxiarquia) que estava operando contra as tribos eslavas que atacavam a Trácia e haviam chego até a longas Muralhas de Anastácio, a defesa mais exterior de Constantinopla. Derrotou o comandante deles Ardagasto no rio Ergínia, perto dali.[3] Como recompensa, foi nomeado mestre dos soldados na presença (magister militum praesentalis) em 585.[3] Nesta mesma ocasião (ou pouco depois, possivelmente em 589), foi novamente promovido, desta ao título máximo de patrício. No verão de 585, derrotou uma grande força eslava e, no ano seguinte, estava novamente à frente da campanha contra os ávaros, que haviam rompido os termos do tratado. Em 587, Comencíolo liderou um exército de 10 000 homens em Anquíalo e tencionava emboscar o cagano ávaro nos montes Hemo, mas fracassou.[4]
Dois anos depois, Comencíolo aparece novamente como mestre dos soldados da Espânia (magister militum Spaniae): uma inscrição com seu nome foi encontrada em Cartago Nova (Cartagena), mas ela pode ter sido erigida por um homônimo. Seja como for, no outono de 589 ele estava de volta no Oriente, substituindo o general Filípico no comando do exército oriental na guerra em andamento contra o Império Sassânida do xá Hormisda IV (r. 579–589).[5] Ele capturou o forte de Acbas, permitindo aos bizantinos apertarem o cerco contra Martirópolis, que havia sido entregue aos persas pelo decarco Sitas,[6] bem como conduziu uma invasão na região de Bete-Arábia (Beth-Arabaye), próximo de Nísibis. Suas tropas foram confrontados por tropas persas lideradas por Afraates em Sisaurano. Apesar de conseguirem sair vitoriosos, não conseguiram recapturar Martirópolis.[7]
Na primavera de 590, porém, recebeu um hóspede inesperado em seu quartel-general em Hierápolis Bambice: o legítimo xá Cosroes II (r. 590–628), que havia fugido para o território bizantino em busca de apoio contra o usurpador Vararanes VI (r. 590–591)[5] O imperador Maurício decidiu apoiá-lo e juntou seus exércitos para restaurar Cosroes ao trono. Comencíolo fora inicialmente escolhido para liderar a campanha, mas foi substituído por Narses após Cosroes reclamar que ele havia lhe sido desrespeitoso. Ainda assim, Comencíolo participou da campanha liderando a ala direita do exército.[8] O restaurado xá persa recompensou a assistência bizantina com um tratado que colocou um fim na guerra que já durava vinte anos e devolveu todas as cidades conquistadas na Mesopotâmia e também a região da Armênia.[9] Pelo final de 590, segundo Teofilato Simocata e Evágrio Escolástico, Comencíolo alegadamente executou o comandante Sitas por sua deserção.[6]
Esta paz em termos tão favoráveis permitiu que as forças bizantinas fossem deslocadas para os Bálcãs para lutar contra as incursões ávaras e eslavas. Em 598, Comencíolo foi novamente enviado para lutar contra os ávaros, provavelmente na posição de mestre dos soldados da Trácia (magister militum per Thracias).[8] Após uma pesada derrota, provocada por um posicionamento incorreto de suas tropas, ele fugiu para Constantinopla e enfrentou acusações de traição. Elas foram retiradas a pedido do imperador e Comencíolo voltou como general para a Trácia.[10] Suas ações subsequentes não tiveram tanta distinção, mas isto pode ser resultado mais do viés negativo de Teofilato Simocata, a principal fonte para o período, contra ele e seu co-general Pedro do que de uma inabilidade ou inação de sua parte.[11] Seja como for, quando o exército se revoltou contra Maurício em 602, Comencíolo foi encarregado da defesa das muralhas de Constantinopla. Quando Focas finalmente tomou a cidade, ele foi um dos primeiros defensores do "antigo regime" a ser executado.[10]
Referências
↑ Martindale 1992, p. 321.
↑ Whitby 1988, p. 15.
↑ ab Whitby 1988, p. 143.
↑ Martindale 1992, p. 322.
↑ ab Martindale 1992, p. 323.
↑ ab Martindale 1992, p. 1163.
↑ Whitby 1988, p. 232.
↑ ab Martindale 1992, p. 324.
↑ Greatrex 2002, p. 170-174.
↑ ab Martindale 1992, p. 325.
↑ Whitby 1988, p. 98–102.
Bibliografia |
Greatrex, Geoffrey; Samuel N. C. Lieu (2002). The Roman Eastern Frontier and the Persian Wars (Part II, 363–630 AD). Londres: Routledge. ISBN 0-415-14687-9 A referência emprega parâmetros obsoletos|coautor=
(ajuda)
Martindale, John R.; Jones, Arnold Hugh Martin; Morris, John (1992). The Prosopography of the Later Roman Empire - Volume III, AD 527–641. Cambridge e Nova Iorque: Cambridge University Press. ISBN 0-521-20160-8 A referência emprega parâmetros obsoletos|coautor=
(ajuda)
Whitby, Michael (1988). The Emperor Maurice and his Historian. Theophylact Simocatta on Persian and Balkan Warfare. Oxford: Oxford University Press. ISBN 0-19-822945-3