Ramal de Cáceres
Ramal de Cáceres | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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Troço do Ramal de Cáceres, perto de Castelo de Vide | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Comprimento: | 81,5 km | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Bitola: | Bitola larga | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Legenda
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O Ramal de Cáceres, também conhecido como Linha de Cáceres, foi uma ligação ferroviária portuguesa em bitola ibérica, não electrificada, que ligava a estação de Torre das Vargens, na Linha do Leste, à fronteira com Espanha, junto a Marvão-Beirã, numa distância total de 72,4 km. Foi provisoriamente aberta à exploração em 15 de Outubro de 1879[1], tendo sido oficialmente inaugurada no dia 6 de Junho de 1880.[1] Foi encerrado pela REFER a 15 de Agosto de 2012.[2]
Índice
1 Caracterização
1.1 Serviços
1.2 Material circulante
2 História
2.1 Antecedentes
2.2 Planeamento, construção e inauguração
2.3 Ligação a Madrid
2.4 Século XX
2.5 Ligação prevista a outras linhas
2.6 Século XXI
3 Ver também
4 Referências
5 Bibliografia
6 Leitura recomendada
7 Ligações externas
Caracterização |
Serviços |
Circularam, por este Ramal, vários serviços internacionais de passageiros, como o TER Lisboa Expresso[3], o Talgo Luís de Camões, e o Lusitânia Expresso.[4]
Material circulante |
Entre o material circulante utilizado no Ramal, conta-se as locomotivas da Série 501 a 508, que rebocaram alguns comboios de passageiros, incluindo o Lusitânia Expresso, uma vez que eram as únicas máquinas com equipamentos para aquecer as carruagens.[5]
História |
Antecedentes |
Já desde os primórdios do planeamento ferroviário em Espanha, em 1845 e 1846, que se delineou a construção das linhas da Extremadura, que ligariam Madrid até à fronteira portuguesa, uma passando por Badajoz, e outra, por Cáceres; a ligação por Badajoz foi aberta em 1866, embora o tortuoso traçado da rede espanhola, naquela altura, forçasse as composições a dar uma grande volta para ligar as duas capitais ibéricas.[6] Isto foi confirmado num relatório do engenheiro francês Wattier, que comandou as obras da Linha do Leste a partir de Fevereiro de 1856, que defendia a construção de um ramal da Linha do Leste, que, passando por Cáceres, se dirigisse para Madrid, evitando, assim, a longa volta por Badajoz e Ciudad Real.[1][7] Este documento sugeriu, igualmente, um traçado alternativo no troço entre Abrantes e Badajoz, passando por Gavião, Alpalhão e Portalegre, que facilitaria a ligação a Cáceres, mas cobriria de pior forma o hinterland português, uma vez que se aproximaria mais da fronteira.[7]
Planeamento, construção e inauguração |
Assim, procurou-se construir a outra linha já planeada, por Cáceres, tendo a sua instalação sido concessionada a duas companhias; a Compañia del Ferrocarril del Tajo seria responsável pela linha entre Madrid e Malpartida de Plasencia, e a Sociedad de los Ferrocarriles de Cáceres a Malpartida y a la frontera portuguesa devia construir o troço desde aquele ponto até à fronteira.[6] Esta parte da linha foi dividida em duas concessões, uma correspondente ao troço de Malpartida a Cáceres, e a outra, desta localidade até à fronteira.[6] No entanto, devido à intenção que já existia em chegar a acordo com a primeira companhia, para gerir toda a linha da fronteira a Madrid, os planos foram alterados, pelo que o troço até à capital espanhola não principiou em Cáceres, mas na estação de Arroyo, entre aquela cidade e a fronteira; esta decisão iria trazer efeitos nefastos para Cáceres, uma vez que aquela localidade ficou, assim, fora da ligação principal entre as metrópoles ibéricas.[6]
A Sociedad de los Ferrocarriles de Cáceres a Malpartida y a la frontera portuguesa era formada por vários investidores espanhóis e portugueses, incluindo a Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses[6]; o principal objectivo da Companhia Real era transportar até ao Porto de Lisboa os fosfatos das minas de Cáceres, com cuja empresa exploradora a Companhia tinha estabelecido um contrato.[1]
O primeiro troço do Caminho de Ferro de Madrid a Cáceres e Portugal, entre a capital espanhola e Torrijos, foi inaugurado em 20 de Junho de 1876.[8] A Companhia Real obteve a concessão para a construção do troço em Portugal no dia 19 de Abril de 1877, sem apoios estatais, tendo as obras começado em 15 de Julho de 1878.[1] A abertura provisória ao serviço do troço construído em território português, inicialmente apenas para serviços de pequena velocidade, deu-se em 15 de Outubro de 1879, tendo a abertura oficial sido realizada no dia 6 de Junho de 1880.[1][9] Para a construção deste troço junto a Vale do Peso, foi necessário demolir parte da Ermida de Santa Eulália, o que gerou uma tentativa de embargo das obras por parte da junta da paróquia, sem sucesso.[9]
No dia 22 de Novembro de 1880, uma reunião em Paris deliberou que a Sociedad de los Ferrocarriles de Cáceres a Malpartida y a la frontera portuguesa seria totalmente dissolvida, e que a Compañia del Ferrocarril del Tajo seria integrada numa nova companhia, que seria responsável por ambas as linhas.[10] Esta empresa foi constituída no dia 7 de Dezembro do mesmo ano, em Madrid, com o nome de Compañia del Ferrocarril de Madrid a Cáceres y Portugal.[6] Entretanto, o troço entre Valência de Alcântara e Cáceres entrou ao serviço em 15 de Outubro do mesmo ano.
[8][6]
Ligação a Madrid |
Ainda foi planeado aproveitar parte do traçado da Linha da Beira Baixa para construir uma ligação ferroviária entre Lisboa e Madrid, mas decidiu-se, posteriormente, utilizar o Ramal de Cáceres para este fim.[11]
A ligação entre a capital espanhola e Valência de Alcântara foi oficialmente inaugurada no dia 8 de Outubro de 1881, na presença dos reis Luís I de Portugal e Afonso XII de Espanha, com a conclusão das obras no troço entre aquela localidade e Cáceres.[10][12] Dois comboios especiais, um português e outro espanhol, transportaram os monarcas e as suas comitivas até à cidade de Cáceres, aonde a cerimónia de inauguração se realizou.[6] Este evento foi acompanhado de festejos, tendo sido organizados um banquete e uma corrida de touros.[6] Neste mesmo dia, entrou ao serviço a ligação entre Arroyo e Malpartida de Plasencia; a ligação a Madrid só foi concluída, no entanto, com a abertura do troço entre Malpartida e La Bazagona, em 20 de Outubro do mesmo ano.[6] Em 22 de Outubro, a Companhia Real tomou a exploração de toda a linha, que continuou na posse da Compañia de Madrid a Cáceres y Portugal.[8]
Uma vez que esta nova ligação era consideravelmente mais curta, e, por isso, mais rápida, entre Lisboa e Madrid do que a passagem pela Linha do Leste, iniciaram-se alguns serviços internacionais de passageiros, embora o Ramal de Cáceres não reunisse as melhores condições para este tipo de tráfego, devido ao seu carácter industrial.[1][13]
Em 1885, ficou decidido que a exploração da linha permaneceria com a Companhia Real, mas esta empresa teve de abdicar deste direito, devido a problemas financeiros, em 1891; a Compañia de Madrid a Cáceres y Portugal ficou, assim, numa complicada situação económica, e, de forma a evitar a interrupção da circulação ferroviária, os investidores de origem francesa integraram, em 1893, esta empresa na Compañia de Explotación de los Ferrocarriles de Madrid a Cáceres y Portugal, y de Oeste.[6]
Nos finais do Século XIX, poucos passageiros usavam este ramal e a sua continuação até Madrid nas suas viagens até Cáceres e à capital espanhola, utilizando, em vez disso, outras linhas ferroviárias e diligências; desta forma, a Companhia Real estabeleceu uma tarifa especial, a preços reduzidos, de forma a atrair estes passageiros, e que teve algum sucesso.[14] No entanto, a sua congénere espanhola contestou esta decisão, e forçou os passageiros a pagarem a tarifa normal, o que resultou em reclamações por parte dos passageiros, tendo a Companhia de Madrid a Cáceres sido forçada pelo governo espanhol a respeitar os bilhetes; ainda assim, aquela sociedade continuou a protestar, alegando que esta medida lhe iria trazer prejuízos.[14]
Século XX |
Em 1928, a Compañia de Explotación de los Ferrocarriles de Madrid a Cáceres y Portugal, y de Oeste foi apreendida pelo estado espanhol, e inserida na Compañia Nacional de los Ferrocarriles del Oeste de España; esta empresa seria, em 1941, integrada, junto com todas as linhas de bitola larga em Espanha, na Red Nacional de los Ferrocarriles Españoles.[6]
Em 1967, circularam, por este ramal e pelas Linhas do Leste e da Beira Alta, composições de trigo com destino a Portugal, no âmbito de um tratado comercial entre as duas nações ibéricas.[15]
Em 23 de Maio de 1971, foi aberta ao serviço a variante de Casar de Cáceres, que alterou o traçado da linha entre Madrid e Lisboa, passando a transitar pela cidade de Cáceres; a inauguração oficial deu-se em 22 de Junho do mesmo ano, numa cerimónia na qual participaram os então príncipes Juan Carlos da Espanha e Sofia da Grécia.[16] O principal motivo para modificação, cujas custos ascenderam a 120,8 milhões de pesetas, foi a necessidade de melhorar as ligações ferroviárias em Cáceres, que se tornou, assim, num nó ferroviário, com a linha de Linha de Gijón a Sevilha.[17]
Em 7 de Outubro de 1981, foi realizada uma cerimónia de comemoração do centenário da ligação ferroviária entre Lisboa e Madrid, aonde participaram os ministros das comunicações espanhol e português, altos funcionários das operadoras Caminhos de Ferro Portugueses e Red Nacional de Ferrocarriles Españoles, e várias autoridades regionais e locais; na estação de Valência de Alcântara, foi descerrada uma placa comemorativa do centenário.[10] Em seguida, foi realizada uma viagem comemorativa até Arroyo de Malpartida, numa composição dos Caminhos de Ferro Portugueses rebocada por uma locomotiva a diesel; nesta estação, a comitiva passou para um comboio histórico português, formado pela locomotiva 23, a vapor, e 4 carruagens e um vagão, todas construídas no Século XIX.[10] Em Cáceres, foi inaugurada uma exposição relativa ao centenário no Museu Provincial, tendo a cerimónia sido terminada com um almoço.[10]
Em 1995, tinha uma importância secundária na rede ferroviária portuguesa, sendo mais utilizada como ligação internacional; nesta altura, os serviços de passageiros eram assegurados por automotoras da Série 0100.[18]
Ligação prevista a outras linhas |
Em 1927, a comissão organizada para a revisão do Plano da Rede ferroviária propôs uma linha de Fratel, na Linha da Beira Baixa, a Estremoz, na Linha de Évora, cruzando o Ramal de Cáceres em Castelo de Vide e passando pela cidade de Portalegre; este projecto foi, no entanto, contestado pelos militares, tendo o Governo incluído no Plano apenas o troço de Estremoz a Portalegre.[19]
Século XXI |
Segundo dados da operadora Comboios de Portugal, em 2010, o Ramal de Cáceres registou uma procura de 4331 passageiros, com uma média de 16 passageiros por dia, ou seja, 4 passageiros por comboio; sendo a receita média de aproximadamente cinco euros por passageiro, ou seja, vinte euros por composição, enquanto os custos do serviço atingiam os 761.418 euros por ano, correspondendo a cerca de 522 euros por comboio.[20]
A empresa Comboios de Portugal encerrou, no dia 1 de Fevereiro de 2011, os comboios regionais de passageiros, que operava no Ramal de Cáceres.[21][22][23]; ficaram, assim, apenas a circular os serviços Lusitânia Comboio Hotel.[24] No entanto, no Plano Estratégico de Transportes, documento oficial apresentado pelo governo português em Outubro, foi anunciada, entre outras medidas, a intenção de modificar o percurso destes comboios para a Linha da Beira Alta até ao final do mesmo ano, para se proceder à total desactivação do Ramal de Cáceres.[24]
Com efeito, a Rede Ferroviária Nacional anunciou que o ramal de Cáceres seria encerrado em 15 de Agosto de 2012, passando o Lusitânia Expresso a circular pela Linha da Beira Alta.[2] Esta medida gerou protestos por parte de autarcas, ambientalistas e sindicalistas portugueses e espanhóis, que se manifestaram numa concentração na Estação de Marvão-Beirã.[25]
Este ramal já não constou no Directório da Rede de 2013, publicado em 30 de Dezembro de 2011 pela Rede Ferroviária Nacional.[26]
Ver também |
- Infraestruturas de Portugal
- História do transporte ferroviário em Portugal
Referências
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↑ ab «Ramal de Cáceres - Encerramento à exploração ferroviária». Rede Ferroviária Nacional. 3 de agosto de 2012. Consultado em 15 de Agosto de 2012 [ligação inativa]
↑ IGLESIAS, Javier Roselló (Março de 1985). «El TER, Veinte Años Despues». Carril (em espanhol) (11). Barcelona: Associació d'Amics del Ferrocarril-Barcelona. 11 páginas
↑ GUTIÉRREZ, Jorge Arturo Venegas (1995). «Caceres: estación y nudo ferroviario». Maquetren (em espanhol). 4 (37). Madrid: Resistor, S. A. pp. 50, 54
↑ SILVA, José Eduardo Neto da (2005). «As locomotivas "Pacific" da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses». Foguete. 4 (13). Entroncamento: Associação de Amigos do Museu Nacional Ferroviário. 45 páginas. ISSN 124550 Verifique|issn=
(ajuda)
↑ abcdefghijkl «Los pueblos ibericos afirman sua buena vecindad con los lazos del ferrocarril». Via Libre (em espanhol). 18 (213). Barcelona. Outubro de 1981. pp. 20, 24
↑ ab «Documentos para a Historia» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 30 (700). 16 de Fevereiro de 1917. pp. 58, 59. Consultado em 16 de Janeiro de 2017
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↑ ab SUBTIL, p. 39, 40
↑ abcde «Brillante Comemoracion del Centenario de la "Ruta Corta" Madrid-Lisboa». Via Libre (em espanhol). 18 (213). Barcelona. Outubro de 1981. pp. 18, 19
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↑ «Comboios: corte de serviços permite poupar 7 milhões». Agência Financeira. 30 de Janeiro de 2011. Consultado em 21 de Outubro de 2011
↑ AMARO, José Bento (1 de Fevereiro de 2011). «Lotação esgotada para o último silvo da "Calhandra" no ramal de Cáceres». Público. Consultado em 27 de Outubro de 2011
↑ «Serviços regionais no ramal de Cáceres suprimidos em Fevereiro». Sol. 17 de Janeiro de 2011. Consultado em 27 de Outubro de 2011
↑ AMARO, José Bento (2 de Fevereiro de 2011). «Medida com custos sociais, económicos e ambientais». Público. Consultado em 27 de Outubro de 2011
↑ ab NORONHA, Alexandra (14 de Outubro de 2011). «Governo vai desactivar parte da linha do Oeste e do Alentejo». Negócios Online. Consultado em 29 de Outubro de 2011
↑ «Protestos contra encerramento do ramal de Cáceres». Correio da Manhã. 14 de Agosto de 2012. Consultado em 15 de Agosto de 2012
↑ «Directório de Rede da Refer 2013». Rede Ferroviária Nacional. 30 de Dezembro de 2011 [ligação inativa]
Bibliografia |
SUBTIL, Manuel (1882). Vale do Peso: História e Tradição. Viseu: Tipografia Guerra. 134 páginas
Leitura recomendada |
SILVA, José Ribeiro da, e RIBEIRO, Manuel (2008). Os Comboios em Portugal: do vapor à electricidade. IV. Lisboa: Edições Terramar !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
Ligações externas |
- Galeria de fotografias do Ramal de Cáceres, no sítio electrónico Transportes XXI
- Página oficial da empresa Infraestruturas de Portugal